São Paulo, terça-feira, 4 de fevereiro de 1997
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Science morre à beira do mangue

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O corpo do cantor e compositor pernambucano Chico Science, morto domingo à noite em um acidente de carro, entre Olinda e Recife, foi velado ontem no centro de convenções do Memorial Arcoverde, em frente ao local onde ocorreu o acidente.
"É para que o povo possa homenagear", explicou o pai do cantor, Francisco Luiz França, 66.
Science foi enterrado no final da tarde, no cemitério de Santo Amaro, em Recife (PE), na presença do governador Miguel Arraes (PSB), 80. "Ele tinha ainda muito o que fazer. Era uma pessoa que cresceu rapidamente", disse Arraes.
O caixão com o corpo do artista deixou o centro de convenções, na divisa de Olinda e Recife, às 15h30 (16h30 em Brasília), transportado por policiais da guarda de honra.
Até aquela hora, dez mil pessoas haviam passado pelo local para homenagear o cantor, segundo avaliação da PM. Cerca de mil pessoas permaneceram no prédio até a saída do corpo.
Mangue
Chico Science, 30, morreu a poucos metros de um mangue, o símbolo do movimento que criou e liderou por cinco anos.
O acidente que matou o artista aconteceu quando o carro que dirigia -um Fiat Uno- bateu em um poste e na grade que protege os jardins do parque Memorial Arcoverde.
O músico teria sido fechado por um veículo não identificado. Chico Science -que se chamava Francisco de Assis França- sofreu fraturas múltiplas na face, traumatismo craniano e afundamento do tórax. Ele estava sozinho no carro.
O artista ainda foi socorrido por policiais militares e transportado para o hospital da Restauração, distante cerca de dois quilômetros, mas chegou morto.
Ontem de manhã, policiais militares foram chamados para organizar a fila de 50 metros dos fãs que esperavam para entrar no velório do cantor. Só foram permitidas quatro pessoas por vez, para evitar tumultos.
O acidente ocorreu após Chico Science deixar a casa da irmã, a enfermeira Maria Gorete França, 34, no bairro de classe média de Graças, zona norte de Recife.
O artista se dirigia para a casa do percussionista da banda Nação Zumbi, que o acompanhava, Jorge du Peixe, em Olinda. Em seguida, assistiriam na cidade a uma apresentação do grupo de maracatu Acabralada.
Chico Science, que tinha um Galaxie Landau 79 cinza com capô preto, preferiu sair com o Fiat Uno branco da irmã, "por ser mais fácil de estacionar", disse o artista plástico e amigo do cantor Félix Farfan, 36.
Farfan foi procurado por Science para acompanhá-lo no programa. "Ele telefonou e não me encontrou. Quando retornei a ligação, ele já havia saído", lembrou.
"Com o Landau, ele fazia ironia ao período de repressão. Dizia que, hoje, ele tirava onda no símbolo de ostentação da época", disse Farfan. "Se estivesse com o Landau, talvez não tivesse morrido."
O governador Miguel Arraes decretou ontem luto oficial no Estado por três dias.

LEIA MAIS sobre Chico Sciece à pág. 4-10

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