São Paulo, terça-feira, 4 de fevereiro de 1997
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Mantras e rock voltam a se encontrar

Kula Shaker

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Como volta e meia acontece no pop inglês, desde o ano passado tem feito furor o rastro deixado pelo disco de estréia da banda Kula Shaker. Chamado simplesmente "K", o tal disco chega agora ao Brasil com histórico que inclui ter sido incensado pela crítica e ocupado lugar de destaque em nove entre dez listas de melhores de 96.
O que é Kula Shaker? Uma banda de rock feita de garotos "poseurs" que resolveram namorar a globalização abordando o flerte Ocidente/Oriente -ou, mais especificamente, o flerte (se é que colonialismo pode se chamar assim) Inglaterra/Índia.
Seu rock é guitarrístico, exatamente como o de quase todas as modernas bandas britânicas de rock. A inflexão, aqui, entretanto, se dá na tentativa de reproduzir ao longo de 13 faixas uma miríade de mantras indianos.
Traduzindo: Kula Shaker inscreve-se na maçonaria que, entre seus mais célebres sócios, conta com os Beatles pós-"Sgt. Peppers" -especialmente nas canções de George Harrison-, Led Zeppelin, Pink Floyd e Donovan (à moda deste, os mantras às vezes vêm acompanhados de cavaleiros e princesas -ouça "Knight on the Town").
Some a isso uma paixão profunda por Jimi Hendrix, admiração pelos Rolling Stones, mais olhares em direção ao "glitter rock" feito no início dos 70 por David Bowie e Marc Bolan. Isso é Kula Shaker.
Caso seja necessário ressaltar, trata-se de puro passadismo. Kula Shaker aparece como uma versão mais à direita de Lenny Kravitz e Suede, artistas que, da mesma forma, fizeram da saudade dos 70 a matriz de suas obras.
Acontece que, se Kravitz bebe na fonte do soul e do funk e se Suede chove na horta de Bowie, Kula Shaker prefere se esbaldar em formas musicais que hoje se consumam como a vanguarda do retrocesso -o proto-heavy metal do Led Zeppelin ou o rock "progressista" do Pink Floyd em especial.
Por mais que faixas como "Tattva", "Govinda" ou "Into the Deep" soem bem, é difícil esperar muito de uma banda que, na virada do século, se paute por gêneros mumificados como rock metálico, pop progressivo ou rock de arena.
Mas mais alarmante é que se saúde tal música -que à revelia acaba resultando despretensiosa, de tão extemporânea- como nova salvadora do pop. Em fim de século, acontecem mesmo coisas esquisitas.

Disco: K
Lançamento: Sony
Preço: R$ 18, em média

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