São Paulo, terça-feira, 4 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ingleses lutam contra estigma de banda "pós-grunge"

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Bush

Banda luta contra estigma de banda "pós-grunge"
O grupo britânico Bush lança "Razorblade Suitcase", o sucessor do álbum de estréia da banda, com duas missões: vender tanto quanto o multiplatinado "Sixteen Stone" e convencer público e crítica que o valor da banda não está restrito ao rosto bonito do vocalista Gavin Rossdale.
Quanto a bater os números do primeiro disco, em torno das 7 milhões de cópias vendidas, a tarefa não parece tão impossível.
No entanto, destorcer os narizes da maioria da crítica que credita o sucesso do Bush à pose de galã de Rossdale vai ser bem mais difícil.
Ser bonitão pode ser uma faca de dois gumes no mundo pop. Por um lado, as meninas vão adorá-lo, colocar seu pôster na parede do quarto e discar sem parar para a MTV local pedindo seus clipes.
Para compensar, a maior parte dos garotos roqueiros vai morrer de inveja e passar a dizer que sua banda não presta, que você não toca nada...
Esse patrulhamento já teve como alvos Peter Frampton, Sebastian Bach (Skid Row) e Jon Bon Jovi, entre outros, e agora centra foco no pobre Gavin Rossdale, que até canta muito bem.
Por isso, a cartilha "pós-grunge" do som do Bush fica mais imperdoável. Um monte de outros grupos continua bebendo na fonte de Seattle e se dando bem, mas o Bush é o mais visado.
O negócio é analisar seu som sem preconceitos. Sim, parece mesmo com Nirvana e Pearl Jam, mas é obrigatório reconhecer que são duas das bandas mais instigantes dos anos recentes e, por tabela, duas das mais influenciáveis.
Nesse segundo álbum, o Bush consegue a sofisticação de produzir um amálgama irretocável. Muitas das canções de "Razorblade Suitcase" começam como uma faixa de CD do Pearl Jam e explodem num refrão gritado, cópia descarada do estilo meio desesperado de Kurt Cobain.
Se a originalidade é nota zero, não dá para deixar de admitir que o Bush fez a lição de casa direitinho. Além do já citado bom vocal de Rossdale, o grupo conta com um guitarrista de primeira, Nigel Pulsford, que sabe criar um bom clima soturno nas músicas.
Aliás, o Bush quer mesmo ser soturno. Além das letras melancólicas e dos rangidos de guitarra, o grupo foi buscar a produção do barulhento Steve Albini, o homem que adora destruir o som das bandas que comanda no estúdio.
Com Albini, o Bush conseguiu soar menos comercial. Só que a crítica não ficou sensibilizada e as meninas ainda sonham com Rossdale. Ou seja, longa vida ao Bush.

Álbum: Razorblade Suitcase
Artista: Bush
Lançamento: Trauma/MCA
Preço: R$ 18, em média

Texto Anterior: Grupo apresenta sua música horizontal
Próximo Texto: FORA DE CATÁLOGO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.