São Paulo, terça-feira, 4 de fevereiro de 1997
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'Alma Brasileira' é obrigatório

IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Todo mundo diz que a música de Villa-Lobos é muito boa, porém, ouvindo os discos à disposição, é difícil de acreditar.
Finalmente chega às lojas um CD orquestral que faz justiça ao melhor compositor das Américas em todos os tempos.
A edição importada de "Alma Brasileira", lançamento da RCA Victor, assusta pela capa: no pior estilo "Miami Vice", o maestro Michael Tilson Thomas, de óculos escuros, posa com uma arara no braço, em meio a um arremedo de floresta tropical.
Para a edição latino-americana, a ser lançada logo após o Carnaval, a BMG está prometendo uma capa mais sóbria -pelo menos, sem a arara.
"Alma Brasileira" é o título do "Choros nº 5", para piano solo, de Villa-Lobos. Apesar de dar nome ao CD, ele não faz parte do disco, que inclui as "Bachianas Brasileiras" nº 4, 5, 7 e 9, além do "Choros nº 10".
Michael Tilson Thomas rege a New Worls Symphony, orquestra por ele fundada em Miami, há nove anos. Renée Fleming, soprano do elenco do Metropolitan de Nova York, é responsável pelo solo das "Bachianas nº 5", enquanto os BBC Singers são o coro do "Choros nº 10".
Embora o visual externo do CD sugira um exotismo fácil e superficial, não é isto que acontece. Michael Tilson Thomas, é certo, não descuida do ritmo, nem dos efeitos percussivos; mas o Villa-Lobos que emerge de suas leituras é, antes de tudo, transparente.
E bem diferente da "maçaroca sonora" que caracteriza as gravações de Villa-Lobos feitas pelo próprio compositor. Ouvir Villa-Lobos por Villa-Lobos é como assistir a um grande filme em uma cópia ruim: dá para perceber que há coisas interessantes acontecendo, e que a trama é bem escrita, mas os detalhes se perdem.
E é justamente na preocupação meticulosa com os detalhes que residem as maiores virtudes de Tilson Thomas. Ele constrói um Villa-Lobos articulado, neoclássico; em outras palavras, sublinha o quanto de Bach há nas "Bachianas", e permite que, nas fugas, todas as vozes sejam escutadas com clareza.
Renée Fleming já está no seu segundo Villa-Lobos; mostra, nas "Bachianas nº 5", as mesmas virtudes e defeitos que em "Floresta do Amazonas". O timbre é muito bonito, mas o vibrato, um pouco excessivo; e português não é, seguramente, a língua em que ela canta mais à vontade.
Já os BBC Singers são absolutamente gloriosos e fazem muito para valorizar os "Choros nº 10", cantando com garra e completo entendimento da obra.
As gravações de Villa-Lobos pelo compositor são fracas; as de Isaac Karabtchevsky e Enrique Bátiz, desiguais; Roberto Duarte, Eduardo Mata e Enrique Arturo Diemecke fizeram discos muito bons, porém difíceis de encontrar. Em meio a tão poucas opções, não é exagero chamar o lançamento de Michael Tilson Thomas de obrigatório.

Disco: Alma Brasileira
Artista: New Worls Symphony, com regência de Michael Tilson Thomas Lançamento: BMG
Quanto: R$ 18, em média

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