São Paulo, terça-feira, 4 de fevereiro de 1997
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MARATONA GLOBAL

O subsecretário de comércio dos EUA, Stuart Eizenstat, usou uma imagem forte para caracterizar a economia global. Em entrevista à Folha, ele disse que "o mundo está em uma corrida de curta distância e alta velocidade" e que é necessário "continuar correndo para acompanhá-lo".
O mesmo Eizenstat esclarece que o seu governo por muito tempo aceitou a presença de monopólios em economias como a brasileira, acreditando que seriam ingredientes inevitáveis do processo de desenvolvimento. A nova orientação do governo norte-americano, entretanto, parte do pressuposto de que o Brasil já se desenvolveu o suficiente sob o amparo de medidas protecionistas.
O governo brasileiro defende uma visão diferente. Acredita que a etapa de abertura unilateral da economia às importações já passou e até que houve exageros. A partir de agora, novas concessões serão aceitas apenas sob o critério da reciprocidade.
Mas, sob a tensão crescente do embate retórico, pode-se dizer que há um pressuposto comum. As duas partes em última análise reconhecem que o período de desenvolvimento em "estufa" já passou.
Para os EUA, esse reconhecimento exige mais pressa na abertura comercial. Para o Brasil, é em nome da mesma maturidade econômica que o país pode dar-se o direito de negociar com firmeza nos foros globais. Aliás, há casos até mais delicados, como a China, que nem ingressou na OMC e recebe tratamento diferenciado por parte do governo dos EUA.
No entanto, mais importante que o cabo-de-guerra diplomático, que traz a primeiro plano as divergências, é perceber, na prática, como a integração com os EUA já está ocorrendo. O que se deve aliás enxergar nesses episódios é exatamente o processo de convergência negociada que no futuro levará à Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Convergência não é sinônimo de adesão passiva. É verdade que a economia global lembra mesmo a corrida imaginada por Eizenstat. O Brasil, entretanto, parece ainda ter mais vocação para maratonista.

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