São Paulo, quarta-feira, 5 de fevereiro de 1997
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Doente renal diz que não dá para comemorar

CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A sanção da lei que regulamenta a doação de órgãos é um avanço, mas ainda não é o suficiente para minimizar o sofrimento de uma pessoa que aguarda na fila por um transplante. A opinião é de doentes renais crônicos que fazem tratamento no HC (Hospital das Clínicas) de São Paulo.
Para o aposentado José Neto de Oliveira, 41, doente renal crônico há quatro anos, só a lei não basta para resolver o problema. "É preciso fazer muito mais. O problema é mais embaixo e, por enquanto, tudo isso só está no papel."
Oliveira, que faz hemodiálises três vezes por semana no HC, afirma que ainda não tem motivo para comemorar. "Só quando houver hospitais especializados, equipes especializadas, vai dar para ver uma luz no fim do túnel."
Em novembro de 94, Oliveira conseguiu fazer o transplante de rins, mas teve uma trombose que fez a esperança de ter uma condição de vida melhor durar apenas cinco dias.
"Essa lei já é um passo para as autoridades acordarem, mas ainda é pouco. Enquanto isso, ficamos aguardando, pensando apenas na possibilidade de fazer um transplante no dia seguinte", disse o aposentado.
O comerciante Guaracy Gonzaga Bistulfi, 47, é um pouco mais otimista, apesar de também afirmar que só a lei de doação não basta.
Doente renal crônico desde os 35 anos, Bistulfi já foi um transplantado por 10 anos (recebeu a doação de um rim da irmã). O órgão recebido, no entanto, perdeu as funções há dois anos, e o comerciante voltou às sessões de hemodiálise e à fila de espera.
"Como um pretendente a transplante, achei a sanção da lei positiva. Sei que tem muita gente contra, porque os hospitais não têm estrutura para fazer transplantes, mas é o começo de alguma coisa", afirmou Bistulfi.
Segundo ele, apesar das opiniões contrárias, a nova lei traz uma esperança maior às pessoas que estão nas filas à espera de doações.
"Se pudesse tomar champanhe, comemoraria a lei. A esperança aumenta, mesmo sabendo que só isso não vai adiantar", declarou.
Na opinião do comerciante, ainda é necessário capacitar os hospitais a fazer transplantes. "Não é só isso. Tem o pós-transplante também, os exames de rotina. Para tudo isso é preciso um apoio hospitalar. Fiquei transplantado por dez anos e nem por isso deixei de ir ao hospital", afirmou.
Bistulfi também faz hemodiálise três vezes por semana no HC. Segundo ele, seus colegas de sessões têm passado a comentar bastante a nova lei. "Senti que eles ficaram mais esperançosos", declarou.
Segundo a médica Rosiani Ferraboli, 52 pacientes fazem sessões de hemodiálise no HC. A maioria já foi um transplantado. "Eles encaram a lei como uma possibilidade a mais de fazer o transplante e diminuir o tempo de espera. A esperança é maior", disse.
Apesar disso, Rosiani afirmou que a maioria dos pacientes é esclarecida e sabe que não basta apenas ter oferta de órgãos. "Tem que ter todo um acompanhamento. O transplante apenas melhora a qualidade de vida", disse.

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