São Paulo, quinta-feira, 6 de fevereiro de 1997
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Estrangeiros enviam R$ 682 mi à Bolsa

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O saldo dos investimentos estrangeiros em ações negociadas na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) ficou em R$ 681,7 milhões em janeiro passado.
Os estrangeiros, que compram ações por meio de fundos específicos (conhecidos por "anexo quatro"), enviaram R$ 4,4 bilhões para a compra de papéis na Bovespa, repatriando R$ 3,7 bilhões no mês passado. Em 96, os ingressos líquidos (fora as retiradas) somaram R$ 3,4 bilhões.
A cifra de janeiro foi considerada muito boa pelos participantes do mercado. Ficou apenas 1,9% abaixo do volume registrado em janeiro de 96 (R$ 694,7 milhões) e 5,49% aquém do enviado em dezembro (R$ 721 milhões).
Isso apesar de fatos negativos, como a entrada da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), no dia 23, e o receio de que o PMDB pudesse atrapalhar de fato a votação da emenda da reeleição -o que não se concretizou, com a vitória do governo na votação da emenda na Câmara, em primeiro turno.
"Foi um mês muito bom para a Bolsa, que aproveitou as boas notícias no 'front' interno e o vigor do mercado norte-americano", disse Alfredo Rizkallah, presidente da Bovespa.
O efeito da CPMF, se houve, foi sentido nos últimos dez dias do mês. Até o dia 20, entraram R$ 598,9 milhões (88% do total no mês). Depois, vieram somente R$ 82,8 milhões líquidos pelos fundos "anexo quatro". Pode ter havido antecipação de investimentos.
"Ainda não sabemos se a queda de volume no final do mês foi devida à CPMF. Vamos esperar mais alguns dias para sentir o fluxo dos investimentos externos", disse Rizkallah.
Dólares Os bancos dizem que os dólares continuam entrando. "Há dinheiro de estrangeiros no ar. O mercado vai subir mais", diz Luís Eduardo de Assis, diretor do Citibank.
Segundo ele, os investidores estrangeiros vêm ao país para ficar períodos longos e almejam rendimento anual acima de 40%. Por isso, o 0,4% da CPMF (0,2% na entrada dos dólares, 0,2% na saída) não faz grande diferença.
Concorda com ele Julius Buchenrode, diretor do Unibanco.
"A CPMF tem um efeito muito pequeno. Na ponta do lápis, não representa tanto assim para quem quer comprar ações a longo prazo. As entradas de dólares continuam", afirma Buchenrode.
Medo O presidente da Bolsa teme que haja uma "transferência de liquidez" (exportação de negócios) do mercado paulista para a Bolsa de Nova York, onde ações brasileiras são negociadas por meio de recibos (ADRs).
Os dados preliminares da Bolsa indicam que a negociação das ações da Telebrás -carro-chefe do mercado brasileiro- cresceu em Nova York após a CPMF, passando de 33% a 35% do volume diário para cerca de 40%.
"Precisamos ver se isso é uma tendência ou se foi apenas fruto de alguns dias", observou Rizkallah.
O governo, à época da entrada da contribuição, acenou com a possibilidade de rever a tributação para o capital externo nas Bolsas, caso o mercado ficasse muito afetado.
No entanto, isso não poderia ser resolvido por uma simples portaria do Banco Central, segundo avaliações iniciais de técnicos da Receita Federal. Talvez a saída seja modificar a lei que criou a CPMF, por meio de um novo projeto de lei.

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