São Paulo, quinta-feira, 6 de fevereiro de 1997
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Fitas piratas estão disponíveis nas ruas

ERIKA SALLUM
FREE-LANCE PARA FOLHA

Apesar de o Brasil ter o menor índice de pirataria da América Latina, a prática invadiu as ruas do país.
"Antes os camelôs vendiam apenas desenhos piratas. Agora, há vários títulos disponíveis. É só dar uma olhada no viaduto Santa Ifigênia, em São Paulo, para constatar isso", disse Luiz Cezar Soares, gerente-executivo da União Brasileira de Vídeo.
O diretor comercial da Look Filmes, Ricardo Rocha, conta que soube recentemente de uma apreensão de fitas ilegais de vídeo pornográfico.
"As cópias de filmes pornôs são muito baratas, não há razão para piratear. Se isso está acontecendo, significa que a situação é preocupante. Vamos ficar atentos."
O mercado em baixa, explica Rocha, contribui bastante para o aumento da pirataria. "Nas férias, os consumidores se afastam das locadoras, e as dificuldades financeiras ampliam a coragem de o empresário cometer esse delito."
Para frear o mercado negro, a UBV decidiu regionalizar seus centros de combate à pirataria.
Desde o final do ano passado, foram criadas equipes de fiscalização em cidades do interior de São Paulo e do Nordeste. Em janeiro, a nova medida prossegue por Belo Horizonte e sul de Minas.
Em geral, de 7.000 a 8.000 fitas ilegítimas são apreendidas por mês pela UBV. No mês de dezembro, devido à fiscalização regional, foram capturadas cerca de 10.000.
"Em vez de enviarmos agentes de São Paulo, resolvemos sediar equipes em várias capitais", conta o gerente-executivo da associação.
Ele acrescenta, no entanto, que São Paulo continua sendo o principal centro de pirataria do Brasil, já que reúne 60% das transações financeiras do setor de vídeo.
"É um absurdo que cerca de 30% do mercado seja ocupado por fitas piratas. Isso desestimula e prejudica o cinema nacional. O pior é que os próprios profissionais da área são coniventes com a situação", definiu Luiz Carlos Barreto, produtor de "O Quatrilho".
Ele afirma que no governo Collor o sistema de fiscalização vigente na época foi extinguido.
Em seu lugar, o Estado propôs que os distribuidores de cinema e vídeo criassem um outro mecanismo de controle, o Sicoa (Sistema de Controle do Audiovisual).
"O pessoal de cinema até que se movimentou, mas o povo do vídeo batalhou para não montar o tal sistema. A própria UBV reagiu violentamente contra ele", critica.
Wilson Cabral, presidente da UBV e diretor-geral da Columbia, rebate as acusações do produtor dizendo que "os distribuidores foram contra a criação do Sicoa porque não o achavam eficaz no combate à pirataria".
"O Sicoa controlaria bilheteria, filme nacional nas locadoras etc. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Isso é balela."
Perdas e danos
Além de produtores, distribuidores e governo, a pirataria prejudica principalmente os donos de locadoras de fitas originais.
"Eu compro uma fita por R$ 70, em média. E pago imposto por isso. Meu vizinho, que só aluga pirata, consegue o mesmo filme por R$ 25. É lógico que ele lucra muito mais", explica o proprietário de uma locadora em São Paulo, que não quis se identificar.
O diretor-geral da Warner, Omar Jundi, relembra que o consumidor é um dos lados que mais perde com a pirataria.
"O cliente é enganado. Paga por um produto que não fornece os mesmos benefícios que o original", define.
Para ele, o consumidor deve lutar para ter o melhor serviço: "Ele deve exigir qualidade e respeito".

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