São Paulo, quinta-feira, 6 de fevereiro de 1997 |
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Rumor de golpe amplia crise no Equador
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS Rumores de um golpe de Estado tornaram ontem ainda mais tensa a situação no Equador, que vive uma greve geral contra o governo e a possibilidade da destituição do presidente Abdalá Bucaram.Seis caminhões com militares armados foram deslocados para os arredores do Congresso, em Quito, no final da manhã de ontem, mas o governo afirmou que os soldados estavam nas ruas apenas para manter a ordem pública. Logo em seguida, a vice-presidente, Rosalía Arteaga, afirmou que o presidente do Congresso, Fabián Alarcón, está preparando um golpe de Estado -o que ele nega. A vice-presidente, que já propôs uma consulta popular sobre a destituição do presidente, se apresentou como "opção constitucional" para assumir o governo no lugar de Bucaram, um político eleito com um discurso populista em 7 de julho do ano passado (leia texto abaixo). O Congresso, unicameral, foi convocado em caráter extraordinário para hoje, quando deve examinar a destituição do presidente. Alarcón anunciou um pedido nesse sentido de 51 dos 82 deputados. Eles acusam Bucaram de "incapacidade para governar", e parte da oposição quer declará-lo mentalmente impossibilitado (Abdalá Bucaram gosta de usar o apelido "El Loco"). A vice-presidente disse que "estão tentando manipular a Constituição quando se pretende de alguma forma, com uma interpretação, desconhecer os direitos existentes" -no caso, seu próprio direito ao governo. A Constituição é dúbia a respeito dos direitos de o vice eventualmente suceder o presidente. O próprio presidente do Congresso também insinuou uma ameaça de golpe, ao dizer que recebeu ameaças de fechamento da Casa -sem dar mais detalhes. Alarcón disse ainda que há uma ordem de prisão contra ele por sua suposta conspiração, representada pela convocação para examinar o impeachment. "Se querem me prender, que me prendam, mas o façam à luz pública, para que o povo veja quem rompe a Constituição", afirmou. Bucaram negou a ordem, dizendo que, "por ser um democrata", não poderia prender o presidente do Congresso. Ele disse que há "quatro políticos conspiradores que perderam a eleição e estão tentando ferir a Constituição", mas que eles não devem ser presos "para que sua conspiração seja evidente". O governo brasileiro anunciou que acompanha a crise com atenção e pediu uma saída democrática. As manifestações Entre a população, o clima também é de tensão. Houve várias manifestações em Quito, a capital, e em Guayaquil, principal porto e base eleitoral do presidente. O alvo, além de Bucaram, são os ministros de seu governo. Bucaram perdeu rapidamente popularidade ao adotar medidas econômicas distantes do seu discurso populista da campanha -como o aumento de tarifas públicas. O presidente decretou estado de mobilização para garantir a ordem durante a greve geral de pelo menos dois dias e prometeu respeitar a Constituição -para isso, ele invocou sua condição de chefe supremo das Forças Armadas. A polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes próximos ao Parlamento. Vários simpatizantes da oposição queimaram pneus. Um grupo carregava uma faixa pedindo cadeia para "Abdalá e seus 40 ladrões". No começo da tarde, uma forte chuva diminuiu a intensidade dos protestos em Quito. Apesar das manifestações nos centros urbanos, analistas acreditam que, se a numerosa população indígena das Províncias do centro do país e da região montanhosa mantiverem sua adesão aos protestos, o governo pode ser obrigado a renunciar. Os indígenas são os responsáveis, por exemplo, pelo bloqueio de estradas, que já causa desabastecimento. Texto Anterior: Coréia do Norte terá novo líder Próximo Texto: Bucaram trocou o populismo pelo neoliberalismo Índice |
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