São Paulo, quinta-feira, 6 de fevereiro de 1997
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INCOMUNICÁVEL

Fazer política sem ser polido. Essa parece ser a máxima de alguém que, mesmo sem ocupar um cargo eletivo, tem um papel muitas vezes mais decisivo que deputados e senadores: o ministro das Comunicações, Sérgio Motta. Visto por muitos como braço direito do presidente Fernando Henrique Cardoso, por outros como emissário do que o presidente não pode ou não quer dizer ou fazer pessoalmente, ele é sobretudo um articulador que "não se contém" e volta e meia tem atitudes incontinentes.
As suas declarações prometendo "destruir" o governador do Paraná, Jaime Lerner (PDT), provável adversário da reeleição de FHC (acompanhadas, em seu espírito, por afirmação do deputado Inocêncio Oliveira), são apenas mais uma evidência, certamente não a última, dessa incontinência que em nada contribui para a evolução dos costumes entre as lideranças políticas brasileiras.
É irrelevante que Motta queira por vezes fazer crer que tanta truculência seja apenas um mero traço de personalidade. Sendo um agente político, um homem do poder, um ministro do círculo íntimo do presidente, algumas de suas investidas são não apenas condenáveis, mas, em última análise, possivelmente ineficientes até mesmo do ponto de vista dos interesses sempre pacificadores do próprio presidente da República.
Mas o repertório do ministro não se limita a traços folclóricos. A provocação lançada por Motta, afirmando que o PSDB chegava para ficar pelo menos 20 anos no poder, é nesse sentido significativa. Parece que a "persona" do militante que combateu o regime militar assimilou atitudes e sobretudo a perspectiva de continuísmo que eram tão peculiares aos "tecnocratas" de plantão.
Político eleito ou não, é razoável esperar de quem ocupa funções públicas pelo menos um esforço para manter um mínimo de decoro.

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