São Paulo, sexta-feira, 7 de fevereiro de 1997
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Cidade vê 'aula-espetáculo'

NELSON DE SÁ
DO ENVIADO ESPECIAL

Como aconteceu com a "aula-espetáculo" de Ariano Suassuna
em 95 ou a "aula-espetáculo" de Grotowski em 96, foi um "debate-espetáculo" o que mais chamou a atenção neste início de ano, no teatro americano. Reuniu de George C. Wolfe a Arthur Schlesinger Jr. Até o diretor brasileiro Antônio Araújo, de "O Livro de Jó", estava lá.
Foi um debate público na prefeitura de Nova York, que reuniu, de um lado, o dramaturgo negro August Wilson, na defesa de um teatro feito por negros, montado por negros, para platéias de negros; de outro, o crítico e professor branco Robert Brustein, no questionamento de tal teatro de envolvimento político e na defesa da integração multicultural.
Estavam a espelhar, é claro, a crise da própria sociedade americana, tão conhecida pelos levantes negros em Brooklyn e em Los Angeles nestes anos 90; aliás, crise já espelhada antes nas diferenças entre o musical negro "Bring in 'da Noise" e o musical integracionista "Rent".
A singularidade e o que fez do debate Wilson/Brustein (iniciado antes nas revistas "American Theater" e "The New Republic") um espetáculo dramático é que ambos levaram a polêmica ao limite da intransigência, permitindo que surgissem sinais de rancor racial, de lado a lado.
No "debate-espetáculo", Wilson chegou a dizer, por exemplo, que não reconhece a figura do mulato; ele tem que escolher o que é, afirmou. Brustein, de seu lado, foi condescente, com observações incomodamente paternalistas em relação a Wilson e infelizes referências a quantos negros conhece.
(NS)

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