São Paulo, sexta-feira, 7 de fevereiro de 1997
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Zé Celso leva Momo Artaud à Paulista

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Casa das Rosas, casarão da avenida Paulista acostumado a receber exposições de artes plásticas, terá um Carnaval diferente.
O rei Momo dos textos do teórico do teatro e escritor francês Antonin Artaud será levado pelo diretor e dramaturgo Zé Celso Martinez Corrêa e pelo grupo Uzyna Uzona até o casarão-museu para uma festa-espetáculo.
O evento acabará em um baile na via que abriga as principais instituições financeiras do país.
O espetáculo "Pra Dar um Fim no Juízo de Deus" é sobre a peça radiofônica de Artaud, gravada em 1948 e proibida de ir ao ar pelo governo francês no dia 2 de fevereiro.
Trechos da gravação original de Artaud serão usados na montagem de Zé Celso.
Loucura e lucidez
"O rei Momo é o palhaço que toma o poder nos dias de Carnaval, e Artaud assume esse personagem", diz Zé Celso.
Segundo o diretor, Artaud era o esquizo que negava a ordem da razão e que, por isso, passou por tratamentos de choque e emergiu mais lúcido.
"O Momo é o excluído que se coroa no Carnaval", afirma o diretor.
Um trecho do espetáculo diz: "Usam um espírito de pureza que permaneceu cândida como a minha para me asfixiar com as falsas aparências que se espalham". E continua: "Por isso eu, Artaud, o rei Momo, posso incorporar o alucinado".
Terreiro eletrônico
Todos os aposentos da Casa das Rosas serão usados na montagem, que estreou no Oficina em 25 de setembro do ano passado.
"Faremos um terreiro eletrônico. Os atores serão como câmeras ambulantes e se comunicarão por meio do vídeo", afirma o diretor.
Duas câmeras de verdade correrão os cômodos. Essas câmeras estarão conectadas a monitores de TV.
As apresentações serão feitas para um público limitado de 90 pessoas por noite, que também se espalhará pela casa.
Semelhanças
"É um trabalho difícil e delicado, que estamos fazendo com muito carinho neste lugar especial que é a Casa das Rosas", afirma Zé Celso.
Existem semelhanças entre Artaud e Zé Celso.
"Ele também misturava o teatro, a vida, o delírio, o transe." É esse aspecto de Artaud que Zé Celso e o grupo Uzyna Uzona querem comungar com o público.
"Queremos que as pessoas se contagiem com a montagem, que elas entrem no clima da festa, da alegria de Artaud", diz Zé Celso.
Artaud descobre, ao sentir dor, que tem um corpo. "A ambição dele era fazer o corpo dançar, era procurar outra anatomia. Ele queria quebrar a rigidez da cultura francesa ao dizer 'Peido, logo existo'."
Maxixe
Celso Sim, ator do grupo, compôs um maxixe que será interpretado ao final da peça por Denise Assunção. A letra da música diz: "A questão que se coloca/ Se o deus existirá/ Neste circo atemporal/ Tutguri com Marat/ Justamente não sabemos/ É o nada, o que será/ É o peido virtual/ Que o corpo dançará".
"É o verdadeiro samba-enredo do crioulo doido que sou eu", afirma Sim.
Na Internet há mais informações sobre a apresentação de "Pra Dar um Fim no Juízo de Deus" na Casa das Rosas, no endereço http:www.dialdata.com.br/casadasrosas.
(DR)

Peça: Pra Dar um Fim no Juízo de Deus
Autoria: adaptação da peça radiofônica de Antonin Artaud
Direção: Zé Celso Martinez Corrêa
Com: grupo Uzyna Uzona
Quando: de hoje até 11 de fevereiro, às 21h
Onde: Casa das Rosas (av. Paulista, 37, tel. 288-9447)
Ingresso: R$ 10

LEIA MAIS sobre Carnaval às págs. Especial-4 e Especial-5

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