São Paulo, sábado, 8 de fevereiro de 1997
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Diretor peruano quer ser invisível

EDIANA BALLERONI
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM MIAMI

Francisco Lombardi é magro, alto, usa óculos, fala baixo e veste-se com roupas escuras. Passaria por qualquer um sem ser notado. Mas é essa a marca que ele quer deixar em seus filmes: invisibilidade.
O premiado diretor peruano não vive do sucesso de seus filmes. Ele tem um cargo administrativo no Sporting Cristal, um clube de futebol. Lombardi conversou com a Folha no dia da estréia de seu filme em Miami -a primeira exibição nos Estados Unidos. A seguir, os principais trechos da entrevista.
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Folha - Tanto no seu filme anterior, "Sin Compassión", como neste, você usa a história de um criminoso para questionar valores éticos que não estão presentes só em situações extremas, mas também na vida cotidiana. Por que o crime como forma de expressão?
Francisco Lombardi - O cinema funciona com base em códigos, e o elemento morte é um deles. Vida e morte são pontos extremos de uma simbologia, e me agrada usar situações como a do filme. Eu tenho muita curiosidade por comportamentos extremos. Os personagens de meus filmes estão sempre em situações de grande hostilidade, acuadas, e acabam se defendendo. Daí a violência.
Folha - De onde surgiu a idéia para este filme?
Lombardi - Já em "Sin Compassión", que se baseia no livro "Crime e Castigo", eu queria ter explorado a idéia de se cometer um crime sem culpa. Não consegui fazê-lo como queria e aquilo ficou na minha cabeça. O conceito do filme existe desde o Festival de Cannes de 1994. Trabalhamos um ano e meio para chegar ao resultado final. Interessava-me explorar como é fina a linha que divide as ações das pessoas, como é possível se estreitar e até se confundir os conceitos de horror e beleza.
Folha - Há quem identifique traços de Capote e de Hitchcock neste filme. Quem influencia a sua obra?
Lombardi - Não reconheço a influência de ninguém. Acho que tenho um estilo invisível de dirigir filmes, e é assim que quero que seja: sem elementos de distúrbio. Não me interessam ângulos especiais da câmera, quem os fez antes de mim. Eu sou um contador de histórias.
Folha - Não é exatamente verdade, pois, como o sr. acabou de dizer, seu filme partiu de questões filosóficas: morte e vida, beleza e horror, crime e culpa...
Lombardi - É, neste filme o postulado veio primeiro. Mas não é sempre assim que ajo. Às vezes a história é o ponto de partida.
Folha - Qual é o seu próximo projeto?
Lombardi - Não tenho nada engatado. Estou sendo consultado para fazer uma telenovela na Espanha e conversando sobre a produção de um filme ainda não definido. Agora volto para o meu trabalho no clube de futebol.
Folha - Não é frustrante ser diretor de cinema e ganhar a vida como um funcionário administrativo?
Lombardi - É frustrante, mas sou pragmático. Não perco tempo me angustiando. É essa a situação dos artistas na América Latina.

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