São Paulo, segunda-feira, 10 de fevereiro de 1997
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FHC diz que Brasil 'precipitou' abertura

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem o que chamou de "precipitação" na abertura da economia, praticada no governo Fernando Collor, culpando-a por resultados que "não são tranquilos".
FHC mencionou, como exemplo, a abrupta eliminação, em 91, do subsídio ao carvão produzido em Santa Catarina. "Acabou toda a produção da região, que entrou em um colapso muito grande."
Mas fez questão de deixar claro que não defende nem subsídios nem o fechamento da economia e, sim, apenas um ritmo diferente.
Sobre subsídio, disse: "Era necessário suspender o subsídio ao carvão, mas era preciso discutir como é que se faz e se é ou não muito rápido".
Sobre a abertura da economia: "A posição do Brasil não é a de ficar fechado, é de abrir. Mas em que condições? Em economia comercial, sempre há o toma lá, dá cá. Como se faz a reciprocidade?".
Neste último ponto, FHC respondia a uma pergunta da Folha sobre o ITA (Acordo sobre Tecnologia da Informação), motivo de séria divergência entre os governos brasileiro e norte-americano.
Os norte-americanos querem que o Brasil se incorpore ao ITA, cuja essência é reduzir a zero, até o ano 2000, as tarifas de importação para todos os bens de informática.
O governo brasileiro, que mantém tarifas médias nessa área em torno de 16%, se recusa a fazê-lo nesses termos rígidos.
Mas o próprio FHC confirmou que o governo está discutindo a relação custo/benefício de aderir ao acordo.
Não aderir significa proteger a indústria de informática, mantendo a barreira para importações, via tarifa elevada. Mas significa também punir todos os demais setores industriais, que pagariam mais por produtos de informática, dada a alta tarifa.
Computadores x agricultura
O que o presidente sugere, como "toma lá, dá cá", é que os países desenvolvidos, em troca de concessões brasileiras nessa área, abram, por exemplo, seus mercados agrícolas, fortemente subsidiados, nos EUA como na Europa.
"Se consolidarmos a Rodada Uruguai, poderemos dar novos passos, mas não adianta avançar em outros setores sem consolidar o que já foi feito", diz o presidente.
A Rodada Uruguai, encerrada em 94, foi a mais ampla negociação jamais realizada para liberalizar o comércio mundial. Previa aberturas na área agrícola que os países desenvolvidos relutam em cumprir.
As declarações do presidente foram feitas em dois momentos diferentes. Primeiro, na chegada ao aeroporto de Heathrow, em Londres, por volta de 22h30 de sábado (20h30 em Brasília).
Depois, na residência do embaixador brasileiro em Londres, Rubens Barbosa, onde o presidente se hospeda, após conversar na manhã de ontem com a chanceler da Colômbia, Maria Emma Mejía.
Até essa crítica aberta, FHC dizia que Fernando Collor, com todos os seus defeitos, havia modernizado a agenda da discussão no Brasil.
Não fazia a ressalva de que a suposta modernização fora uma "precipitação", ao menos em algumas áreas. Embora não tenha sido explícito, quando FHC diz que a "precipitação" trouxe "resultados que não são tranquilos", está certamente se referindo também ao déficit da balança comercial.
A abertura, como é óbvio, facilitou as importações e estas, por sua vez, ajudaram a conter os preços internos, contribuindo para o combate à inflação.
Mas também abriram um buraco nas contas externas, o que obrigou o governo FHC, em algumas áreas, a reintroduzir barreiras, como no caso dos automóveis.
FHC participa hoje da abertura de conferência sobre a América Latina, organizada pelo Ministério britânico de Relações Exteriores e pela CBI (Confederação Britânica de Indústrias). Almoça com o primeiro-ministro John Major, ao lado dos dois outros presidentes latino-americanos presentes, o panamenho Ernesto Balladares e o peruano Alberto Fujimori.

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