São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 1997
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Barítono, era exceção

DIOGO PACHECO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um dos grandes problemas da cultura musical brasileira é a precaríssima cultura dos nossos homens de poder. E vejam que, quando falo de poder, não me refiro apenas a políticos, mas a todos que detêm, de certa forma, o poder financeiro: empresários, banqueiros etc. O etc. é bom porque deveria ser empregado exclusivamente nestas ocasiões.
Já cheguei a afirmar que o grande problema da cultura brasileira era que nenhum homem de poder neste país tinha lido um livro. Arroubos de juventude.
Hoje, aos 70 anos, acho que não é tanto assim. E como não há regras sem exceção, também há algum tempo houve exceções. E o melhor exemplo disso foi o ex-ministro (barítono nas horas vagas) Mário Henrique Simonsen.
Ópera e concerto
Tinha grande admiração por ele. Amante de ópera e de música de concerto, podia conversar sobre esses assuntos às vezes até melhor que pretensiosos "entendidos" e com a mesma competência -acho- com que falava de economia.
Dono de grande discografia, quando viajava não deixava nunca de frequentar os melhores teatros dos EUA e da Europa para assistir a concertos e encenações líricas. E reparem que isso já é raro, mesmo em se tratando de admiradores de música clássica. Ainda há aqueles que gostam de óperas e não vão a concertos sinfônicos e vice-versa.
Mário Henrique, além de tudo, gostava de música de câmara e conhecia o assunto como ninguém. Duvido que algum daqueles fanáticos de ópera conheça todos os quartetos de Mozart ou de Beethoven como ele.
E, no gênero operístico, ele dominava não só as óperas italianas como as alemãs ou francesas. Haja vista para seus artigos sobre música publicados periodicamente na revista "Veja".
Além de escrever muito bem, discorria com extrema naturalidade tanto sobre pianistas, violinistas, violoncelistas, compositores ou cantores, ária que lhe era muito familiar.
Podia-se, às vezes, discordar de suas opiniões. Por exemplo: ele preferia Plácido Domingo a Pavarotti. Tem gente que não admite isso, como também muitas pessoas não admitem nenhuma restrição à melhor cantora de todos os tempos: Maria Callas.
Cantor
Mário Henrique, como já disse, era cantor. Tinha voz de barítono e, embora não cantasse em público, deliciava-se comprando óperas só com a parte da orquestra para ser o cantor solista nas árias de seu registro.
O primeiro parágrafo dessas anotações pode parecer estranho, mas se justifica pelo seguinte.
Além de presidente de uma das melhores orquestras sinfônicas brasileiras, a OSB, Mário Henrique Simonsen incentivou sempre que pôde atividades culturais. Se mais detentores de poder financeiro tivessem sua cultura, talvez o Brasil não estivesse tão atrasado nesse setor.

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