São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 1997
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"Nossas divergências eram naturais", afirma Delfim

"Mário foi embora do governo porque quis", diz ex-ministro

DA REPORTAGEM LOCAL

"Era natural que nós tivéssemos divergências naquela época. Eu era ministro da Agricultura, tinha que sair em defesa da agricultura, dos fazendeiros, das fazendas. Mário (Henrique Simonsen) era ministro da Fazenda, ele tinha que defender a Fazenda, que não era a minha fazenda, mas outra."
Foi dessa forma que Antônio Delfim Netto, 68, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento durante dois governos militares (Médici e Figueiredo) relembrou, ontem, suas divergências com Simonsen.
Delfim desmentiu que Simonsen tenha saído do governo Figueiredo, depois de apenas quatro meses, por ter perdido espaço político -para Delfim- para fazer valer suas idéias sobre como tocar a economia brasileira. Depois que Simonsen pediu demissão, Delfim se tornou ministro do Planejamento e passou a comandar a economia do país.
Paixão
"Nunca brigamos", disse Delfim. "Mário foi embora do governo porque quis. Essa história da saída dele do governo Figueiredo, precisa ser melhor explicada. Em agosto de 79, ele tinha consciência muito clara que a situação econômica era extremamente difícil e resolveu ir embora."
Simonsen teria decidido que podia ajudar mais fora do governo. "Ele nunca guardou qualquer mágoa dessa época. Continuamos amigos."
A maior contribuição de Simonsen, como economista, foi seu trabalho como professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), do Rio, onde foi diretor da Escola de Pós-Graduação em Economia durante 9 anos. "Ele despertou verdadeira paixão pelo estudo, pela economia entre seus alunos."
Isso não significa, porém, que seus livros não tenham sido importantes. Ao contrário, só não alcançaram reconhecimento internacional, segundo Delfim, porque foram escritos numa língua pouco conhecida.
"Os livros do Mário, especialmente o 'Macroeconomia' (escrito em 1974) fariam bonito em qualquer país do mundo. Ele não parava de estudar, estava sempre se atualizando, estava na fronteira do conhecimento."
Normalmente mordaz nos seus comentários, Delfim lembrou que Simonsen era, ao contrário, generoso no debate econômico. "Ele estava sempre pronto a debater temas econômicos e, embora fosse extremamente racional, era também generoso no trato dos opositores. Por isso, foi um homem singular, sem inimigos."
Peça de teatro inédita
Os dois eram amigos desde a mocidade, época em que com frequência iam juntos a bares, beber uísque e conversar sobre economia. Naquele período, Simonsen começou a escrever uma peça de teatro, que continua inédita.
"O Mário vivia me contando como estava indo a peça que ele estava escrevendo. Chamava-se 'A Colher'. Não sei que fim teve nem se ele acabou de escrever ou não."

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