São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 1997
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Blocos afros defendem boicote

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Após o Carnaval, os diretores dos principais blocos afros de Salvador (BA) -Olodum, Ilê Aiyê, Muzenza e Malê de Balê- devem se reunir para aprovar a proposta de boicote aos produtos comercializados pelos patrocinadores dos principais trios elétricos que participam da folia em Salvador.
O diretor de relações internacionais do Olodum, Billy Arquimino, disse que o boicote é uma resposta dos associados ao descaso dos patrocinadores.
"Nós ajudamos no consumo de produtos fabricados pelos patrocinadores, mas não recebemos nenhum incentivo financeiro durante o Carnaval", disse.
A decisão de reunir os dirigentes dos blocos afros foi tomada depois que o Malê de Balê resolveu boicotar o Carnaval baiano este ano por falta de patrocinadores. No ano passado, o Malê foi considerado o melhor bloco afro de Salvador.
Segundo Arquimino, o Olodum vai pedir boicote aos principais hotéis da capital baiana nos shows que realiza no exterior. "Os hotéis usam os blocos afros para atrair turistas, mas não contribuem."
Ele afirmou que apenas 800 dos 4.200 associados que estão participando do Carnaval com o Olodum compraram a fantasia do grupo. "Sem patrocínio, os blocos afros não vão resistir por muito tempo."
Depois do Carnaval, os diretores dos blocos afros pretendem marcar uma reunião com os coordenadores da folia.
Os principais trios elétricos de Salvador conseguiram patrocínios que cobrem pelo menos 60% dos custos. Durante o Carnaval, um trio elétrico gasta cerca de R$ 250 mil para sair às ruas todos os dias.
Além dos patrocinadores, outras fontes de receita dos trios e blocos baianos são os associados (foliões que pagam entre R$ 300 e R$ 500 pela fantasia), festas, shows e micaretas (Carnaval fora de época), realizadas durante todo o ano.
Para o diretor do bloco Camaleão, Joaquim Nery, o Carnaval de Salvador é democrático. "Precisamos fazer alguns ajustes nas regras para tornar a festa ainda melhor."
O secretário estadual da Cultura da Bahia, Paulo Gaudenzi, disse que, após o Carnaval, o governo e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas) vão desenvolver um projeto para transformar os blocos afro de Salvador em microempresas.
"Só com administração profissional os blocos afros podem sobreviver à concorrência com os trios", disse.

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