São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 1997
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Terapia reduz cegueira causada por Aids

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um novo procedimento terapêutico e uma nova droga podem reduzir a menos de 5% os casos de cegueira em doentes de Aids. Até quatro anos atrás, pelo menos 30% dos pacientes ficavam cegos.
O procedimento é um implante intra-ocular já aprovado pelo Ministério da Saúde e pelo FDA, órgão do governo americano que controla remédios e alimentos. Durante oito meses, o implante libera a medicação que, na terapia convencional, precisa ser aplicada todos os dias.
Em outra frente, o uso de uma nova droga, o fomivirsen, aplicada dentro do globo ocular com o uso de uma agulha finíssima, vem conseguindo recuperar mais de 50% da visão já perdida. A terapia ainda está em fase de protocolo, um estudo multicêntrico aprovado pelo FDA pelo Ministério da Saúde.
Os dois procedimentos estão sendo desenvolvidos pelo grupo de Aids ocular da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A cegueira em doentes de Aids é provocada por uma retinite, infecção da retina causada por um vírus chamado citomegalovírus. O vírus pode atacar diferentes partes do organismo, mas seus danos no olho são rápidos. Em duas ou três semanas sem medicação, o doente pode perder a visão.
O tratamento convencional é feito com a droga ganciclovir por via endovenosa. Nos primeiros 21 dias, o paciente recebe duas doses diárias, o que o obriga a ir duas vezes ao dia ao hospital. O tratamento deve ser feito pelo resto da vida.
A irregularidade na distribuição do ganciclovir no serviço público, em alguns períodos, provocou a cegueira de dezenas de pacientes.
O produtor em publicidade Marcos Durval Galvani, 30, perdeu 30% da visão em 96 porque o remédio esteve em falta por 15 dias. Só não ficou cego porque o remédio foi repassado a ele pela família de um doente de Aids que morreu.
O implante intra-ocular tem a forma de uma cápsula de 2,5 mm de diâmetro por 3 mm comprimento e é fixada por uma haste dentro do globo ocular. O interior do implante contém 4,5 miligramas de ganciclovir que são liberados lentamente -cerca de 1 micrograma por hora, o que significa um tratamento de oito meses. O implante é feito com uma pequena cirurgia de 20 minutos.
"A Unifesp já fez mais de 70 implantes com excelentes resultados", diz Cristina Muccioli, do Departamento de Oftalmologia. A Unifesp é o primeiro centro da América Latina a fazer o implante.
O fator limitante é o preço: o implante, fabricado pela Chiron Vision americana, custa US$ 4 mil. O implante não é pago pela rede pública de saúde. Depois de oito meses, esgotado o medicamento, o implante deve ser substituído.

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