São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 1997
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O câmbio e a roleta russa

CLÓVIS ROSSI

Roma - O presidente Fernando Henrique Cardoso montou um bordão que repete sempre: "O Brasil mudou".
É pouco provável que alguma outra espécie humana tenha ouvido tal frase mais vezes do que os jornalistas, em especial aqueles que acompanham o presidente em Brasília ou nas suas viagens pelo mundo.
É uma raça curiosa essa. Desenvolveu ao longo dos anos justificável desconfiança das autoridades, sejam quais forem.
Por isso, quando FHC disse ontem que não ia mexer no câmbio, os jornalistas desconfiaram que ali havia algo, digamos, estranho.
Ou seja, não acreditaram que "o Brasil mudou" e desenvolveram o raciocínio de que, se alguma autoridade diz que não vai haver pacote, congelamento, confisco ou desvalorização cambial, é porque vai haver.
Pode parecer um raciocínio tortuoso, viciado. Mas há mil antecedentes, antes de que o Brasil, supostamente, mudasse.
É claro que, na primeira oportunidade, a desconfiança foi levada ao presidente, que, como é igualmente óbvio, negou qualquer mudança. E retomou outro bordão: "Desde que fui ministro da Fazenda, eu sempre fiz o que digo que vou fazer. E, se estou dizendo (que não vai haver alteração na política cambial), é porque não vai haver".
É possível, diria até que é provável, embora um dos poucos jornalistas especializados em economia que ouço em silêncio e com respeito (Celso Pinto) tenha lá suas dúvidas.
Haja ou não mexida cambial, o fato é que o presidente precisa mudar sua política de comunicação. A pergunta para esclarecer a questão cambial foi feita em meio a cenas de jornalismo explícito, ou seja, o presidente num bolo de microfones, gravadores, câmeras, máquinas fotográficas, seguranças, curiosos, o diabo.
É roleta russa, um convite a um mal-entendido. E, no caso, seria justamente sobre o câmbio.

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