São Paulo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 1997
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Vinte anos de hegemonia

LUÍS NASSIF

Não há nada mais anti-histórico do que essa história de 20 anos de hegemonia do atual pacto de poder consolidado por Fernando Henrique Cardoso.
Demonstra absoluta falta de visão de processo histórico ao pretender projetar por 20 anos uma confluência de alianças importante para transformar o país, mas datada no tempo.
Há dezenas de argumentos para rebater essa suposta perenidade -inclusive a estabilidade econômica, que ainda não é favas contadas. O mais óbvio é que as expectativas do país não são imutáveis.
FHC captou bem as expectativas e exigências do tempo atual. Para se manter por 20 anos, a atual estrutura de poder teria de permanecer antenada em todas as novas etapas do país pelos próximos 20 anos.
Isso não existe nem em ambiente democrático, nem em ditaduras, porque as estruturas envelhecem e os grupos hegemônicos sempre encontram dificuldades para se renovar, pelo mero fato de serem poder.
Os revolucionários de 30 foram os "carcomidos" de 45.
Se o atual esquema conseguir se renovar, ótimo para o país, e que levem as batatas. Mas há raríssimos exemplos na história. Muito menos agora, quando a era da informação imprimiu ritmo extraordinário de mudanças em conceitos e expectativas.
À medida que se modernize, a opinião pública será cada vez mais exigente. FHC é um autêntico representante das exigências de seu tempo. Nada indica que o será nos novos tempos, após completada a travessia.
Depois, é da natureza do regime democrático a resistência a toda forma de continuísmo. Adversários do atual governo alertam para o risco de 20 anos de continuísmo, não por acreditar em tal, mas porque sabem que esse tipo de discurso cala fundo em ambientes democráticos. E é ótimo que cale.
A principal virtude da democracia é a alternância de poder. É o que obriga a situação e a oposição a estar permanentemente ligadas nas aspirações populares, que se renovam a cada etapa da vida nacional.
O maior reforço a essas idéias de continuísmo é justamente a falta de uma proposta alternativa majoritária no campo das oposições. Para manter a vitalidade das reformas, são fundamentais uma oposição com propostas alternativas e uma imprensa crítica, mas com análises e propostas concretas.

Email:lnassif@uol.com.br

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