São Paulo, sexta-feira, 14 de fevereiro de 1997
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Recepção no aeroporto tem tumulto e canto árabe

MAURO TAGLIAFERRI
DA REPORTAGEM LOCAL

A recepção que Lamia Maruf Hassan ganhou dos jornalistas ao entrar no saguão do aeroporto de Cumbica (Guarulhos, SP) foi bem diferente da oferecida pelos pais dela à imprensa, na casa deles.
O vôo que trouxe a brasileira de Londres chegou à São Paulo às 10h15 de ontem -com uma hora e dez minutos de atraso.
Os pais dela, Fátima e Muruf, e a filha, Patrícia, foram os primeiros a abraçá-la, em área restrita à Polícia Federal. Lamia também foi recebida por três agentes da PF e pelo chefe da Delegação Especial Palestina no Brasil, Musa Amer Odeh.
No saguão, porém, ela enfrentou o empurra-empurra de jornalistas e cinegrafistas. Além deles, havia cerca de 30 amigos e pessoas que lutaram por sua libertação, que aplaudiam, gritavam, dançavam e cantavam em árabe.
Faixas, que tratavam a brasileira como "heroína", e bandeiras do Brasil e da Autoridade Palestina foram agitadas e uma garrafa de champanhe, aberta.
Com a ajuda de parentes e amigos, foi levada rapidamente a um carro e conduzida à casa dos pais -escoltada pela segurança particular do aeroporto e pela polícia.
Lamia disse, depois, que a recepção foi "calorosa". Em frente à casa dos pais dela, os jornalistas recebiam doces árabes, quibes, coxinhas, chocolates, água e refrigerante, enquanto aguardavam a entrevista coletiva.
Vizinhos também se aglomeravam junto ao portão.
Lá, um representante do Comitê pela Libertação dos Presos Políticos no Brasil distribuía um texto contra a posição do governo, que aplaude a libertação de Lamia, mas mantém membros de movimentos revolucionários chilenos e salvadorenhos presos.
Às 12h25, Lamia apareceu na janela de um dos quartos do sobrado. Acenou, beijou a mãe e a filha e agitou a bandeira nacional. "Agradeço a todos os brasileiros, aos presidentes, deputados e vereadores que me ajudaram", disse.
Ela usava um vestido branco, com detalhes coloridos, bordado por ela na prisão. À filha, deu uma bolsa, também feita lá.
"Ela está grudada em mim, cheia de cuidados. Mais parece minha mãe que minha filha. Nunca duvidei de que nos daríamos bem", afirmou, sobre Patrícia, 11.
"O pai dela adora a menina, é muito difícil para ele ficar sem vê-la", acrescentou, referindo-se ao marido, Tawfic Ibrahim Mohammed, preso em Israel.
A casa estava em festa. Faixas e cartazes saudavam a chegada da ex-prisioneira. Os pratos servidos no almoço, incluindo uma prometida feijoada, foram feitos pela mãe de Lamia, Fátima, que desde o sábado não saía da cozinha, preparando a recepção.
Dizendo-se cansada, Lamia chegou a interromper a série de entrevistas que deu para descansar e trocar de roupa.
Ela recebeu a visita do embaixador palestino Musa Amer Odeh, do deputado estadual Jamil Murad (PC do B) e um telefonema do governador do Espírito Santo, Vitor Buaiz (PT).
(MT)

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