São Paulo, sexta-feira, 14 de fevereiro de 1997
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APERTO FINANCEIRO

Era previsível que os juros altos e o crescimento da dívida federal cedo ou tarde viriam a estreitar a margem de manobra do governo para a realização de investimentos e a melhoria dos serviços públicos. Em 95, a dívida federal em títulos cresceu de R$ 61,8 bilhões para R$ 108,5 bilhões. Em novembro de 96, esse total já era de R$ 175,2 bilhões, segundo dados preliminares do Banco Central.
Os números do Orçamento de 96 mostram que os recursos para saúde e saneamento, assim como para educação e cultura, perderam participação no total gasto pela União.
Também é relevante notar que, de 95 para 96, o governo federal conseguiu reduzir os desembolsos com pessoal e encargos sociais de 15,8% do Orçamento para 14,5%. Mas não obteve redução similar no pagamento de juros e encargos da dívida, que ficou em 7% do Orçamento.
Durante longo período desde a implantação do real, o BC manteve os juros em patamares elevadíssimos, apesar de protestos vindos do setor produtivo e de críticas de respeitados economistas. Essas taxas excepcionalmente altas contribuíram para o controle da inflação. Mas é altamente duvidoso se a dosagem dessa política precisava ter sido tão elevada. No primeiro semestre do real, por exemplo, o rendimento das aplicações financeiras no Brasil não encontrava paralelo em todo o mundo.
Em março de 95, os juros foram novamente elevados para conter a instabilidade gerada pela crise mexicana e moderar o ritmo de crescimento da economia. Mas também se pode indagar até que ponto essa nova alta foi de fato decisiva, comparada ao efeito da contenção direta do crédito e da imposição de compulsórios sobre os bancos. Fica-se com a impressão de que o governo, em momentos importantes, optou por políticas que se mostraram onerosas demais para as próprias contas públicas.
Hoje os juros já estão mais baixos, porém incidem sobre um estoque de dívida muito maior. E a sociedade continua esperando pelo dia em que será possível resgatar a vergonhosa dívida social do país.

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