São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 1997
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Papa pede reforma agrária 'dentro da lei'

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

O presidente Fernando Henrique Cardoso comemorou ontem o fato de o papa João Paulo 2º ter defendido, no discurso com que o saudou no Vaticano, uma "reforma agrária executada de acordo com as leis vigentes".
FHC ressaltou a importância de o papa ter dito que "tem que resolver dentro da lei". "Quando a lei está errada, muda-se a lei e nós estamos mudando a lei", disse.
É uma referência à introdução do rito sumário para desapropriação de terras e da modificação no ITR (Imposto Territorial Rural), que, segundo o presidente, "vai ferir fortemente o interesse dos latifundiários", segundo FHC.
Na verdade, o papa nem sequer falou em reforma agrária. O trecho citado fazia parte da versão escrita previamente divulgada e que se torna oficial, na íntegra, mesmo que o papa pule trechos.
Mas bastou para desfazer uma certa expectativa de que o tema reforma agrária suscitasse algum mal-estar entre o Vaticano e o governo FHC, justamente o primeiro chefe de Estado brasileiro a visitar oficialmente a Santa Sé.
No encontro reservado, apenas entre o mandatário brasileiro e o papa, João Paulo 2º tocou, aí sim, na questão da terra.
"Ele me perguntou e eu contei o que estamos fazendo, quais são os problemas, quais são as dificuldades", disse o presidente.
No almoço que a comitiva brasileira ofereceu, na embaixada no Vaticano, ao cardeal Angelo Soldano, o secretário de Estado do Vaticano (espécie de ministro de Relações Exteriores), o tema voltou a aparecer.
Desta vez coube ao ministro da Justiça, Nelson Jobim, despejar os números oficiais sobre desapropriações (3 milhões de hectares) e assentamentos (100 mil famílias), nos dois anos da gestão FHC.
O ministro disse também que a questão da terra se transformara "em uma bandeira política instrumentalizada para uma determinada posição política", sem citar, no entanto, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra).
Jobim acha que a menção do papa ao respeito às leis vigentes "nos dá um reforço em relação a isso" (ou seja ao combate ao uso supostamente político de um problema que o próprio presidente reconhece ser real.

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