São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 1997
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"O MST é um pouco primitivo"

DO ENVIADO ESPECIAL

O presidente FHC cobrou do MST "uma atitude mais madura" e disse que, "se o MST imagina que vai substituir o Estado, está sonhando, está em uma utopia regressiva que não vai funcionar".
A crítica foi feita em entrevista coletiva na embaixada do Brasil junto ao Vaticano:
Pergunta - O sr. recebeu o abaixo-assinado de intelectuais italianos sobre a questão agrária?
FHC - Não vi e acho lamentável que assinem coisas sobre as quais não sabem nada. É só para fazer onda na imprensa. O intelectual sério tem que discutir seriamente. Como intelectual que sou, queria perguntar: o que é isso, você tem coragem de botar seu nome se você não sabe?
Pergunta - O reitor da Universidade de Bolonha mencionou o tema e manifestou preocupação...
FHC - Eu também tenho. É natural que seja uma referência. Há muita má informação, porque tem muito brasileiro que dá informação errada. Só que precisa dizer, ao mesmo tempo, que, nos últimos dois anos, nós assentamos 100 mil famílias e que a média histórica é 12 mil por ano.
Em segundo lugar, que nós mudamos a legislação. Fizemos uma legislação tributária que vai realmente ferir fortemente o interesse dos latifundiários. Que houve a aprovação do rito sumário. Ninguém acreditava que fosse ser feito. Todo mundo usava isso como bandeira para não ser feito.
Isso vai resolver? Nada resolve tudo de um momento para o outro, mas estamos criando as condições para melhorar.
Pergunta - Sobre a relação MST/governo?
FHC - Recebi o MST várias vezes. Duvido que alguém tenha recebido o MST como eu recebi. Fiquei duas horas com eles. A primeira coisa que me pediram é se podiam pôr a bandeira do MST na minha sala. Eu disse que não. Aqui, é só a do Brasil. Essa aí é de vocês, não é do Brasil.
É uma coisa um pouco primitiva, mas eu entendo isso. Acho que o MST tem uma função. Como existe o problema, eles têm que levantar essas bandeiras. Não tem nada que me leve a dizer não, não tem que dialogar. Eles é que não aceitam. O ministro da Reforma Agrária faz o que pode, eles continuam com as invasões.
Outro dia ocuparam um prédio para que saísse mais depressa um empréstimo. Imagine se essa moda pega. Para obter um empréstimo, ocupa um prédio ou uma repartição. Isso não é possível.
Enquanto agirem dessa forma, estão atrapalhando a imagem deles próprios.

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