São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 1997
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Morre presidente demissionário da FNS

Edmundo Juarez teve hemorragia interna

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Morreu ontem o presidente demissionário da FNS (Fundação Nacional de Saúde), Edmundo Juarez, 68, vítima de hemorragia interna causada pela ruptura de uma artéria do abdome.
Ele havia pedido demissão no último dia 4. Em carta ao ministro Carlos Albuquerque (Saúde), ele atacou a redução da compra da vacina anti-hepatite B de 40 milhões para 10 milhões de doses.
Anteontem, em entrevista à Folha, ele classificou de "intromissão fantástica" a decisão do ministério de dar prioridade à vacinação de menores de 1 ano contra hepatite B -o estopim da sua saída.
Segundo ele, a medida foi sugerida pelo secretário-executivo, Barjas Negri, um economista que "não pode entender de hepatite".
Ele não se conformou com o fato de não ter sido consultado a esse respeito.
"Assim não dá para trabalhar", disse ele, ao justificar as deficiências no combate às epidemias no país por causa do corte de quase 70% do R$ 1,9 bilhão previsto no orçamento da FNS em 1996.
Professor titular de epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Juarez era remanescente da equipe do ex-ministro da Saúde Adib Jatene.
Com a saída de Jatene, em novembro passado, Juarez continuou no cargo como interino.
Edmundo Juarez foi encontrado agonizante em seu apartamento, às 8h30, pela secretária Rosa Mitsui, a quem chegou a chamar por telefone para levá-lo a um hospital. Seu corpo será cremado hoje, em São Paulo.
*
Folha - O que levou o sr. a pedir demissão?
Edmundo Juarez - Intromissão.
Folha - O sr. não concorda em definir como prioridade da vacinação anti-hepatite B as crianças com menos de 1 ano de idade?
Juarez - Uma criança já nasce infectada se a mãe portar o vírus da hepatite B. Isso é raro. Em populações normais, as pessoas começam a se infectar quando começam a ter experiências sexuais.
Folha - O sr. não está sendo insensível quanto à falta de recursos do Ministério da Saúde para comprar vacinas anti-hepatite B?
Juarez - Se fosse por causa do pouco dinheiro destinado à FNS, eu já teria brigado com o Adib Jatene a soco. Não ter dinheiro, tudo bem. Mas não aceito interferência.
Folha - Com a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), o governo não vai evitar a redução na compra da vacina anti-hepatite B?
Juarez - Não entro nessa conta. A informação que tenho é que o dinheiro da CPMF vai ser gasto com o pagamento de dívidas com o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e com os hospitais. É a hora de perguntar por que o governo não pode dar R$ 2 milhões por mês para comprar os 40 milhões de doses em 20 vezes.
Folha - Como se explica o retrocesso que aconteceu na sua gestão, como a urbanização da malária em Manaus?
Juarez - Isso aconteceu devido à falta de recursos. Não consegui gastar R$ 52 milhões orçados para o combate da malária. Em 1996, houve um corte de R$ 700 milhões no orçamento da FNS (de R$ 1,9 bilhão).
No final de 96, após a saída do Jatene, tinha dinheiro. Mas não havia ordem para pagar. Aí que se pagou (dívida com hospitais) com o orçamento da fundação.
Todo o programa de hanseníase e de tuberculose também ficou na conta da CPMF. Como a CPMF não estava aprovada, esses programas não poderiam ser incluídos no orçamento de 1996. Então, tuberculose e hanseníase ficaram a zero. Saneamento ficou com 20%. Assim não dá para trabalhar.
Folha - Qual o principal problema hoje para a fundação enfrentar?
Juarez - Pela magnitude, acho que é a dengue.

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