São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 1997
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Marcelo Brum filma os quatro séculos de Minas

ERIKA SALLUM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Sem receio de ser chamado de pretensioso, o cineasta Marcelo Brum desenvolve seu mais novo projeto: "Minas, o Filme", longa-metragem sobre os quatro séculos de história do Estado onde nasceu, vistos sob um ponto de vista econômico.
Natural de Belo Horizonte, Brum, 34, sentia que, com a retomada do cinema brasileiro, faltava discutir e mostrar culturas que estivessem localizadas fora do eixo Rio-São Paulo.
Para ajudá-lo nessa empreitada, está o produtor Bruno Stroppiana, o mesmo de "Tieta", dirigido por Cacá Diegues.
Ainda sem título definido, mas chamada previamente de "Minas, o Filme", a obra será dividida em cinco episódios de 25 a 30 minutos cada, não obrigatoriamente organizados de forma cronológica ou didática.
Para quem sustenta que esse trabalho é pura pretensão, Brum, formado em economia, avisa que "não deseja encerrar a totalidade da história de Minas nem fazer uma catalogação dos fatos que ali ocorreram".
A idéia é levar às telas as particularidades do Estado que, por muito tempo, sustentou o país com suas minas de ouro.
"Quando se fala em Minas, em geral é sobre Tiradentes, Aleijadinho, mas na verdade há muito mais. Isso aqui foi palco de uma 'corrida do ouro' que ninguém nunca alinhavou", explica.
Um de seus objetivos, nesse "exercício de mineiridade", como ele próprio define seu projeto, é explicar que os acontecimentos históricos estão intimamente atados aos movimentos econômicos.
"Se não fizermos isso, corremos o risco de pensar que, por exemplo, Fernando Collor foi um acidente de percurso."
Literatura mineira
As grandes personalidades que escreveram sobre Minas, como Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade, não serão esquecidas em meio ao "olhar econômico" do diretor.
"Guimarães foi setorial, na medida em que fala de uma região específica do Estado, mas sua literatura é universal, e ela estará presente no filme."
O intuito é fazer com que o longa-metragem seja compreendido e apreciado por pessoas de várias regiões do país e do mundo.
Rodado em 35 mm, "Minas, o Filme" deve começar a ser filmado no segundo semestre.
Para integrar o elenco, Brum planeja escolher grandes atores brasileiros, que farão pequenas participações especiais.
O diretor faz mistério sobre quem serão os roteiristas e apenas revela que chamará três nomes -um deles, necessariamente, mineiro.
Esse será o segundo filme de Brum, que, em 1994, realizou o documentário "Maxakali, o Povo do Canto", sobre um grupo indígena do norte de Minas e sua luta para sobreviver nos tempos modernos.
O documentário ganhou o prêmio de melhor direção no 5º Festival Internacional das Ilhas Canárias, na Espanha, entre outros.
"'Maxakali' foi um verdadeiro faroeste para mim, devido à problemática do tema", revela.
Apesar de ter estudado economia, Marcelo Brum sempre esteve em contato direto com as artes, principalmente a cinematográfica. Na faculdade, fazia filmes independentes em Super 8, "não largando um minuto a câmera de vídeo dada pelo pai".
Fundador de uma empresa de vídeo, realizou também diversos comercias e trabalhos publicitários.

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