São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 1997
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Brasileiro faz intervenções em museu francês

BETINA BERNARDES
DE PARIS

Quem for visitar, até 23 de março, o Musée des Beaux-Arts de Agen, no sul da França, famoso por sua coleção de Goya e pelas esculturas greco-romanas, vai se deparar com bonecas decepadas e baratas de plástico.
A inovação, sucesso de público e crítica, é obra do artista plástico brasileiro Julio Villani, que recebeu carta branca da direção para realizar uma intervenção nas coleções do museu. O resultado é um confronto entre obras contemporâneas e as obras expostas.
O museu de Agen concentra todas as etapas da história da arte, da pré-história aos impressionistas.
Com a instalação de Villani, a direção tinha como objetivo, como explica o convite da exposição, ajudar o visitante a ver diferentemente as peças da coleção permanente e a incitar a descoberta da obra do artista contemporâneo.
"É uma oportunidade única na minha vida, sei que nunca mais vou ter uma chance como essa, autorização plena para abrir as vitrines onde estão as obras e mudar da forma como eu quisesse, jogar com tudo segundo a minha visão", disse Villani à Folha.
O artista não poupou criatividade nesse jogo. Brincando com as palavras, latas, pincel, tinta, retratos e colagens, ele estabelece um jogo de pistas com o visitante.
Se, no primeiro aspecto, tudo parece uma brincadeira, as intervenções de Villani permitem ao público, num segundo momento, uma noção mais arqueológica.
"Não exijo muito do visitante, ele pode parar no primeiro aspecto, que é mais infantil, ou ultrapassá-lo, é um trabalho que tem muitos conceitos, mas com uma outra dimensão. Acho que foi por isso que consegui agradar gregos e troianos", diz Villani, fazendo mais um jogo de palavras como os que marcam a exposição.
Revólver
Na sala de armas brancas e de fogo dos séculos 16 ao 19, por exemplo, o artista colocou na vitrine de coleções de espadas e revólveres um revólver verde de plástico, batizado de "revolvert", algo como "revólverde" em português.
Uma das mais interessantes intervenções, e que mais chama atenção do público, está na sala de esculturas greco-romanas. Ao lado de uma vênus romana, e iluminada da mesma forma, Villani criou uma "vênus de Xangai".
Ele cortou e decepou bonecas chinesas dando a elas a mesma forma quebrada das estátuas romanas e gregas. "É um diálogo engraçado, as pessoas, no lugar de ficarem chocadas, adoram esse confronto", conta Villani.
As intervenções não estão presentes em todas as salas, mas, após percorrer os primeiros espaços, o público acaba procurando, em cada lugar, uma pista de onde pode estar a obra de Villani.
O artista, de 40 anos, está há 20 fora do Brasil. Abandonou a escola de Belas Artes da Faap para morar em Londres, voltou ao Brasil por algum tempo, mas depois acabou se instalando na França.

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