São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 1997
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"Eu não espero nada do Oscar"

DENISE MOTA
DA REDAÇÃO

"O Paciente Inglês", dirigido pelo britânico Anthony Minghella, é uma espécie de "azarão" do Oscar 97. Embora o filme, que pré-estréia hoje em São Paulo, tenha recebido 12 indicações ao prêmio deste ano, sua produção foi recusada por todos os grandes estúdios de Hollywood por não ter astros "americanos" em seu elenco.
Autor de textos para teatro e TV, Minghella, aos 43 anos, tem uma curta filmografia que inclui, além de "O Paciente Inglês", apenas os filmes "Truly, Madly, Deeply" (91) e "Mr. Wonderful" (93).
Aparentemente despretensioso, o diretor diz não esperar nada da obra que ganhou o Globo de Ouro de melhor filme do ano. Seus planos se resumem a "voltar para casa e ser pai". De Tóquio, ele concedeu entrevista à Folha:
*
Folha - O que levou o sr. filmar a obra do escritor Michael Ondaatje?
Anthony Minghella - O que me impressionou no livro foi a riqueza de sua grande história, romântica, política e de espionagem. Tive sorte de poder falar tudo o que queria, sem um estúdio ou um produtor me pressionando para fazer algo mais simples.
Folha - O filme é fiel ao livro?
Minghella - Na verdade é uma resposta ao livro. É fiel no sentido de que Ondaatje esteve comigo desde o primeiro dia em que comecei o roteiro. Mas queria que ele fosse um catálogo de histórias de amor. O amor pelo deserto, o amor da amizade, o amor entre paciente e enfermeira, o amor do nacionalismo e o amor entre um homem e uma mulher.
Folha - O que atraiu atenção para o filme, já que ele não teve um grande orçamento para um épico (US$ 33 milhões) nem astros de Hollywood?
Minghella - As pessoas têm necessidade de filmes que emocionam, não que manipulam a emoção. Há uma frase maravilhosa no livro de Michael que diz que "o coração é um órgão de fogo". Quis fazer o filme como um vulcão que iluminasse as pessoas.
Folha - Por que Juliette Binoche, Ralph Fiennes e Kristin Scott Thomas para os papéis principais?
Minghella - Procurei um equilíbrio decorrente da diversidade dos atores. Juliette tem uma interpretação muito transparente. Isso foi importante para o papel de Kristin, que é muito sutil. Eu escrevo e dirijo, então conheço bem o material com o qual estou lidando. Apenas saio em busca dos personagens. Não estava interessado se seriam estrelas, só queria que fossem os melhores atores possíveis.
Folha - O sr. escrevia antes de começar a dirigir e, em "O Paciente Inglês", é marcante a preocupação com a linguagem...
Minghella - Gosto de trabalhar com a linguagem, mas acho que a ação é o mais importante.
Folha - O filme levou 12 indicações ao Oscar. O que o sr. espera da premiação?
Minghella - Eu não espero nada, realmente. Estou feliz de que ele tenha atingido tantas pessoas. Não é algo como "Jerry Maguire"(também concorrente ao Oscar de melhor filme), em que as pessoas vêem porque Tom Cruise está nele. A única estrela do nosso filme é o filme em si.
Folha - Seu produtor, Saul Zaentz, está confiante em pelo menos oito categorias...
Minghella - Alguém já disse que a definição do pessimista é ser aquela pessoa que tem que trabalhar com um otimista. Zaentz é um homem singular. O que acontece é que não quero me desapontar.
Folha - Alguns críticos disseram que o filme foi feito para ganhar o Oscar, com suas belas paisagens e a produção cuidadosa. O sr. acha que, de algum modo, o filme ficou do jeito que a Academia gosta?
Minghella - Acho engraçado que as pessoas agora digam que o filme foi calculado, porque, quando estávamos tentando arranjar dinheiro, elas diziam "Você não vai conseguir fazer um filme assim, é muito ambicioso, tem um personagem excepcional, não tem estrelas". Ou seja, tudo o que falavam estar calculado para fracassar agora está calculado para ganhar. É irônico para mim.
Folha - É verdade que o sr. e Saul Zaentz rejeitaram Demi Moore para o papel de Katharine Clifton?
Minghella - Minha resposta é: quando tentávamos fazer o filme, muitos atores e atrizes queriam fazer parte dele. Mas você só pode contratar uma pessoa. É isso.
Folha - Há um novo projeto em vista?
Minghella - Só ir para casa e ser pai. Pensar em outro filme é como se estivesse pensando em me casar com outra pessoa, enquanto minha mulher está em casa.

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