São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 1997
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Ciclo refaz itinerário de Cacá Diegues

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Carlos Diegues pode não ser o cineasta mais admirado do país. É, com certeza, o mais discutido e um dos mais populares. Daí o interesse da mostra "O Cinema de Carlos Diegues", na Sala Cinemateca.
Seu percurso, desde o episódio "Escola de Samba, Alegria de Viver", para o filme "Cinco Vezes Favela" (1962), até "Tieta do Agreste" (1996) é cheio de mudanças.
O início, marcado pela preocupação social, por vezes já tem o sopro épico que caracterizaria alguns de seus filmes posteriores, caso de "Ganga Zumba", de 1964, que inaugura sua intervenção em temas referentes à influência negra na cultura brasileira (a exemplo de "Quilombo", 1984, ou "Xica da Silva", 1976).
Diegues experimentou ainda o musical ("Quando o Carnaval Chegar"), o cinema de estrelas ("Joana Francesa", com Jeanne Moreau), a apreensão do Brasil contemporâneo ("Bye Bye Brasil", 1979), a co-produção com a TV ("Veja Esta Canção, 1994), o melodrama urbano ("A Grande Cidade", 1966, "Chuvas de Verão", 1977), a adaptação literária ("Tieta").
O que permanece mais polêmico em seu trabalho é a mudança de rumo que o separa do criticismo do primeiro cinema novo, em troca de uma abordagem irremediavelmente otimista das coisas.
Embora o melhor filme de Diegues ainda pertença à primeira fase ("A Grande Cidade"), o olhar otimista posterior é característico de seus maiores sucessos (como "Bye Bye Brasil" ou "Xica da Silva") e o que gerou mais polêmica.
Esse otimismo talvez tenha dificultado a compreensão de seu trabalho, sobretudo em São Paulo: a estética exuberante, vizinha das escolas de samba cariocas, a afirmação dos aspectos vitais -em detrimento da crítica-, o desenvolvimento do roteiro não raro em núcleos (um pouco, também, como os enredos de escolas) levaram alguns de seus filmes a ser rejeitados às vezes antes mesmo de qualquer consideração estética.
A exibição dos 13 longas (além de curtas que entram como complemento das sessões) dá a oportunidade de reavaliar uma trajetória diversa, mas coerente, que talvez esteja resumida no título de seu primeiro trabalho: a escola de samba e a alegria de viver são duas figuras centrais dessa obra, no mais, desigual.

Mostra: O Cinema de Carlos Diegues
Onde: Sala Cinemateca (r. Fradique Coutinho, 361, tel. 881-6542, Pinheiros, zona oeste)
Hoje: Xica da Silva (15h35), Veja Esta Canção (17h45), A Grande Cidade (19h35), Tieta do Agreste (21h20).
Acompanhe a programação diariamente no Acontece

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