São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 1997
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Romance é relançado no Brasil

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"O Paciente Inglês", de Michael Ondaatje -canadense nascido no Sri Lanka-, foi publicado originalmente em 1992, saiu aqui em 1994 e não vendeu quase nada.
Na esteira do filme, o livro ganhou sobrecapa nova e deve virar best seller. Tomara -até porque a editora 34 poderá revisar com mais capricho uma eventual reedição, evitando por exemplo as datas erradas na página 98.
"O Paciente" é um raro exemplo de romance contemporâneo que combina entretenimento e densidade literária sem cair na fórmula "suspense e pinceladas de erudição" que se tornou a regra na literatura "mainstream" de hoje, de Umberto Eco a Rubem Fonseca.
Não que o livro de Ondaatje dispense esses recursos. Há suspense e há exibição de erudição específica -sobre armas, sobre o deserto africano- nessa história de quatro personagens reunidos pelo acaso numa villa italiana em ruínas no final da Segunda Guerra.
O que destaca "O Paciente Inglês" da vulgaridade mecânica da maioria dos "best sellers cultos" é a sensibilidade com que desenha traço a traço seus caracteres humanos e a extrema destreza com que manipula o fio narrativo, conduzindo o leitor por caminhos inesperados e reveladores.
Há uma situação presente -o momento em que convivem na villa uma enfermeira canadense, um paciente queimado (que pode ser ou não inglês), um desarmador de minas indiano e um ladrão ítalo-canadense-, mas sua evolução é só parte da narrativa.
Na maior parte do tempo o relato "avança para trás" -com perdão do paradoxo-, introduzindo "flashbacks" dentro de "flashbacks", de modo a dar espessura e complexidade a cada personagem.
Nesse rastreamento dos fios que trouxeram cada um deles a esse lugar particular na história e na geografia do mundo, Ondaatje expõe ao leitor uma tapeçaria cujo motivo recorrente é a solidão do homem como ser exilado entre a natureza e a cultura.
Enfrentando as tempestades de areia do deserto, a amea

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