São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pelo 10º dia, tensão continua na Albânia

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Bloqueio de estradas, manifestações e enfrentamentos esporádicos mantiveram o clima tenso ontem na Albânia, pelo 10º dia consecutivo de protestos.
Estima-se que metade da população do país balcânico, o mais pobre da Europa, perdeu suas economias quando bancos que patrocinavam investimentos com esquemas de pirâmides quebraram.
Um jovem foi esfaqueado na cidade portuária de Vlore (150 km ao sul de Tirana, a capital do país) enquanto participava de uma manifestação com 7.000 pessoas.
Adnan Gjoni foi atacado após acusar um homem que estava no protesto de ser um agente secreto da polícia. Gjoni está hospitalizado e fora de perigo. A estrada que liga a cidade à capital foi bloqueada.
Em Fier, uma cidade próxima a Tirana, cerca de cem policiais antimotim tiveram de fugir quando foram atacados com pedras por mais de 5.000 manifestantes.
"Fora (presidente Sali) Berisha. Queremos nosso dinheiro de volta", gritava a multidão. O governo é acusado de ter sido conivente com os esquemas de pirâmide.
O direitista Berisha, por sua vez, diz que a oposição de esquerda utiliza a crise para tentar derrubá-lo. Segundo fontes oposicionistas, mais de 50 dirigentes socialistas (ex-comunistas) foram presos desde o início dos protestos.
"O governo está levando a Albânia a uma guerra civil", disse Kurt Kola, líder do Fórum para a Democracia, a principal força de oposição, que reúne vários partidos albaneses.
Guerra e economia
O crescimento dos protestos faz especialistas se perguntarem como tantos milhões de dólares se viram envolvidos em esquemas de pirâmide. Considerados crime no Brasil, os esquemas sempre terminam em um inevitável colapso.
Os investidores mais antigos são pagos com o dinheiro de novos depositantes. Quando a adesão começa a baixar, os patrocinadores dos esquemas se vêem em dificuldades para pagar os rendimentos.
"Um esquema puro de pirâmide duraria no máximo 18 meses", disse um consultor financeiro. Na Albânia, diversos bancos adotaram as pirâmides em 1990, depois da queda do regime comunista. Eles duraram até um mês atrás. Os especialistas se perguntam como.
A resposta parece estar na vizinha Bósnia, e na guerra étnica que ali perdurou de 1992 até 1995. Economistas estimam que o pequeno país europeu faturou uma média de US$ 1 milhão ao dia com exportações de petróleo à Sérvia e Montenegro e com carregamentos de arma para a Bósnia.
À época, o comércio com a região estava embargado pela ONU.
"Se ainda houvesse a guerra na Bósnia, não estaríamos nesta confusão hoje", disse um economista.

Texto Anterior: OMT lança plano contra trabalho infantil; Angola acusa tropa da ONU de abuso sexual; Rushdie pede ação européia contra o Irã; MRTA quer comida para libertar reféns; Presidente do Equador enfrenta descontentes; 'Bibi' se dispõe a encontrar líder sírio
Próximo Texto: Comitê assume cidade bósnia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.