São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 1997
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ILUSÕES ECONÔMICAS

O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou na Itália que a economia brasileira deverá crescer 4,5% este ano. Declarou também que a política cambial não será alterada. De outro lado, verifica-se que o ritmo das reformas está lento, que as exportações perdem vigor -apesar dos estímulos-, e a dívida pública consome enormes parcelas do Orçamento. Há desencontro entre a aparente tranquilidade do governo e as pendências reais na área econômica.
Cresce assim o risco de que a administração federal prefira adiar determinados problemas a enfrentá-los de fato. As condições excepcionalmente favoráveis no mercado financeiro internacional e o bom momento político em que se encontra o governo federal podem tentar a administração a "deitar sobre os louros", em vez de atacar as questões que ainda estão mal resolvidas.
Poderiam ser interpretados nesse sentido, por exemplo, os argumentos apresentados em recente estudo do diretor de política monetária do Banco Central. O trabalho aponta que a queda da inflação contribui para restaurar o poder da política monetária. Enquanto tese acadêmica, é praticamente incontroversa. Mas seria lamentável se essas considerações tivessem como pano de fundo a acomodação quanto a manter o real baseado quase que exclusivamente na política de juros altos.
Isso significaria relegar as reformas e o ajuste fiscal, ou, ao menos, conformar-se com as dificuldades que tais iniciativas enfrentam. Seria abusar do crédito e da credibilidade de que hoje goza o Plano Real.
Desde os primeiros meses da estabilização, economistas do próprio governo ressaltavam que a chamada "âncora cambial" e o aperto monetário eram instrumentos de curto prazo, que serviam para dar fôlego ao governo até que as reformas estruturais e o ajuste fiscal consolidassem a estabilidade de preços. Passaram-se dois anos e meio, e os avanços nessas áreas ainda são pífios. É hora de completar a tarefa.

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