São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 1997
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SINTONIA ZERO

O sub-comando geral da Polícia Militar paulista, inspirado na experiência nova-iorquina do "plano de tolerância zero", anunciou nesta semana nova orientação para o policiamento na Grande São Paulo. Seria prioritário, de início, um combate mais intenso aos pequenos delitos, o que supostamente desestimularia a ocorrência de crimes mais graves.
Porém, no dia seguinte, a própria Secretaria da Segurança Pública, à qual se subordina a PM, reprovou a apresentação do plano sem que fossem feitos estudos mais detalhados da experiência americana.
Parece duvidosa a premissa de que um reforço no contingente policial coibiria pequenos delitos. Durante o Carnaval, quando a presença da Polícia Militar nas ruas foi mais ostensiva, houve queda no número de homicídios, mas a quantidade de roubos e furtos aumentou. E são precisamente os pequenos delitos flagrados no cotidiano que transmitem maior insegurança aos cidadãos.
Há também outros pontos questionáveis. Ao se importar do Primeiro Mundo proposta aparentemente bem-sucedida, sem considerar a especificidade da realidade brasileira, há o perigo de se escamotearem as dimensões reais do problema.
O primeiro obstáculo está na formação dos policiais brasileiros, notoriamente falha. Dados da Ouvidoria da Polícia paulista, relativos ao último quadrimestre de 96, indicam que o número de denúncias de abuso policial (117) superou o de queixas por falta de policiamento (81).
Preparar a PM para o exercício equilibrado de suas funções, assim como remunerá-la bem, são tarefas que, a rigor, deveriam preceder, ou no mínimo acompanhar, iniciativas como a da "tolerância zero". É o que se verificou em Nova York, e decerto não ocorre em São Paulo.
Lamentavelmente, a falta de sintonia entre as duas instâncias em relação a um tema tão importante revela que, no que tange à segurança da população, as autoridades, na melhor das hipóteses, ainda engatinham.

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