São Paulo, segunda-feira, 17 de fevereiro de 1997
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Os leitores dão as cartas

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um envelope pardo e volumoso, enviado pela equipe do Folhateen, me espera na porta de casa. Dentro... sim, as cartas dos leitores!
Meu texto sobre o Legião Urbana em 14/10/96 deu o que falar.
Para Marcello Chiasso (27 anos, São Paulo, SP), ofendi "a memória de um dos maiores poetas de nossa música".
Alguém que se assina "Pmello" também achou uma "falta de respeito".
Rodrigo Roesler (16 anos, Otacílio Costa, SC) tem certeza de que Renato Russo "foi um gênio da música brasileira" e eu deveria "queimar no inferno".
Valdir Amato (São Paulo, SP) também julga Russo "um poeta e um gênio" e meu texto, "desrespeitoso".
O Legião foi "a maior banda brasileira de rock" e quem a critica só pode ser "idiota", segundo Luiz Gustavo Madina (de 21 anos, São Paulo, SP).
O que mais me chateia nessas cartas é a semelhança de tom: todas falam de "respeito" e "genialidade".
O tal texto era, a meu ver, simpático à banda. Elogiava o Legião pela honestidade (nunca mudou de estilo) e só dizia que Russo tinha pretensões poéticas maiores que o talento.
Mas ele era "gênio", rebatem os fãs, e é preciso respeitar a memória dos gênios! Fico imaginando se as bandas punk achassem que era preciso respeitar os "gênios" do rock progressivo...
O som de hoje simplesmente não existiria, inclusive o próprio Legião.
Na mesma linha (ídolos são intocáveis), Fernanda, Patrícia e Lílian (Visconde do Rio Branco, MG) acham que chamei Bon Jovi de "brega" (9/12/96) porque sou "invejoso".
A carta mais bizarra vem da Fabíola Kummer (23 anos, Curitiba, PR). Sobre um papel verde-escuro, ela escreveu a lápis. Resultado: não dá para ler nada.
A alta taxa de brasileiros no "eject" incomoda Pablo Vieira (Goiânia, GO). O problema, amigo, é que para mim o rock brasileiro se divide em: cabecismo declarado (Titãs) e cabecismo disfarçado (Raimundos).
E falando em cabecismo... a cordial Juliana Rocha (18 anos, Guarujá, SP) reclama do Arnaldo Antunes no "eject". Juliana, dá uma olhada no parágrafo aí de cima.
Gustavo Veiga (20, Goiânia, GO) concorda com o comentário de 7/10/96 sobre as rádios de faculdades nos EUA, cada vez mais chatas.
Inteligente, o Leandro (sobrenome indecifrável), de Santos, SP, faz elogios -agora sim- bem argumentados ao Legião Urbana e conta que foi escutar bandas que viu no "play": Whipping Boy, Nada Surf, Cardigans.
Nota a semelhança do Garbage com o finado Curve e defende a polêmica tese de que Chico Buarque é tão bom poeta quanto Bob Dylan. Grande Leandro!
Grande também é o Gustavo Bittencourt (Porto Alegre, RS), da banda Walverdes, que se lembra de um texto sobre o Mudhoney que escrevi no século 16 para a "Bizz"!
Ele gosta de Martin Amis, Pixies, iogurte e desta coluna. Acha os Titãs umas "tias" tocando guitarra.
A Maria Amélia Zampronha (15 anos, São Paulo, SP) pede uma dica de som pesado, mas não "porrada na orelha". Lá vai: Social Distortion.
O Fernando Baldan (21 anos, Campinas, SP), escreve muito bem, mas gosta de Pato Fu.
Por fim, mais uma carta "cool" da fiel leitora Love Elektra, que se declara "too stoned to be elegant". Beleza.

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