São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 1997
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FHC destaca legado cultural do senador

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA SUCURSAL DO RIO; DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso ressaltou ontem a contribuição de Darcy Ribeiro à cultura brasileira.
Ao saber da morte do antropólogo, FHC foi ao hospital Sarah Kubitschek. Às 19h40, falou brevemente aos jornalistas no local. "O Brasil todo sabe a importância de Darcy Ribeiro, o significado imenso que ele teve para a cultura brasileira. Foi um lutador, a começar contra a própria moléstia."
O presidente lembrou do contato que tinha com o senador.
"Era amigo meu há mais de 40 anos. Era amigo do meu pai, da minha mãe, do meu cunhado, da Ruth. Tanto que, no plano pessoal, é uma perda muito grande também. Eu acho que ele deixou um exemplo admirável de mostrar que, quando a gente tem vontade, como ele tinha, consegue empurrar até a morte o mais longe possível. Chegou o momento. Estamos todos muito tristes."
Brizola
O ex-governador do Rio Leonel Brizola, de quem Darcy foi vice no governo e na derrota na eleição presidencial de 1994, destacou a "energia mental" revelada pelo senador durante seus últimos anos de vida.
"Talvez ele nunca tenha pensado e escrito tanto e com tanta intensidade", disse Brizola, por telefone, de sua fazenda no Uruguai.
Para o ex-governador, Darcy lutou "de forma mais do que brava" contra o câncer.
"Quando seus familiares faziam uma avaliação pessimista de sua saúde, ele levantava a cabeça e ressurgia, como quando fugiu do hospital e foi se curar nas areias de Maricá", disse Brizola.
"Politicamente, civicamente, nosso país perde um de seus grandes valores", afirmou Brizola. "Na polêmica e na coerência, ele foi insuperável."
Leia a seguir comentários feitos ontem sobre a morte do senador:

Francisco Weffort, ministro da Cultura - "Com a morte de Darcy, o Brasil perde uma de suas maiores personalidades, que se notabilizou pela fundamental contribuição para a educação, literatura e antropologia."

Ruth Cardoso, antropóloga - "Darcy Ribeiro foi um querido amigo. Um homem de grande coragem, pessoal e política. Darcy foi, principalmente, um homem que amava a vida com a energia exemplar só presente nos grandes homens."

Roberto Da Matta, antropólogo - "O que fica na obra do Darcy, não só na antropologia, não é a vontade de estudar e entender o mundo, mas de mudá-lo. Tentei ser amigo dele, mas não consegui."

Oscar Niemeyer, arquiteto - "Era um homem tão bom, um brasileiro fantástico, cheio de idealismo. Era um amigo, um irmão. É uma perda irreparável, vai fazer muita falta."

Orlando Villas-Boas, sertanista - "Darcy Ribeiro pertence a uma geração que mostrou à sociedade brasileira que índio não é bicho. Não era um antropólogo de gabinete. Ajudou muito a criar a UnB (Universidade de Brasília) e o Parque Nacional do Xingu."

Nélida Piñon, presidente da Academia Brasileira de Letras - "Quando Darcy ria, ria alargando o horizonte do Brasil. Como imperador do Brasil, ele apostava no nosso destino. Ao mesmo tempo, revogava as nossas faltas. Que saudade, Darcy."

Jorge Amado, escritor - "Lastimo a morte de Darcy. Foi meu amigo da vida inteira. Participamos juntos de várias campanhas, de vários combates. Podia errar, esteve errado várias vezes, mas nunca se omitiu."

Dias Gomes, dramaturgo - "Acho que a bruxa está sendo muito inclemente com a cultura brasileira. Primeiro foi Ênio Silveira, depois o Callado e agora o Darcy... Com eles três lá em cima, Deus que se cuide."

Gilberto Velho, antropólogo - "Tive discordâncias e reservas em relações a aspectos de sua obra como antropólogo, mas ressalto sua extraordinária criatividade e genuíno amor ao povo brasileiro."

Roberto Mangabeira Unger, professor da Universidade de Harvard (EUA) - "Conseguiu desenvolver uma obra que mostrava um pensamento social que jamais cedeu aos deslumbramentos dos modismos estrangeiros."

Lygia Fagundes Telles, escritora - "Disse a ele certa vez que ele era a reencarnação de Gonçalves Dias. Os índios perdem com sua morte, e também perdem os que amam os advogados das causas puras, das causas perdidas."

José Murilo de Carvalho, historiador - "O Darcy teve um papel de agitador de idéias. E tinha uma enorme paixão pelo Brasil. O fato de se eleger senador tirou ele da política local do Rio e o recolocou no debate nacional."

Paulo Renato Souza, ministro da Educação - "Ele era um lutador da cultura brasileira, o educador do Brasil. Teve uma trajetória intelectual das mais marcantes. Como antropólogo, como educador."

Antonio Carlos Magalhães, presidente do Congresso (PFL-BA) - "O Senado perdeu seu mais culto senador. Darcy era um emblema. Falar de Darcy é falar do Brasil. Tudo que era impossível deu certo para ele."

Michel Temer, presidente da Câmara (PMDB-SP) - "Darcy Ribeiro era não somente um intelectual de grande importância, mas um homem que dedicou toda sua energia à defesa das melhores qualidades do caráter brasileiro."

Luiz Carlos Bresser Pereira, ministro da Administração - "Darcy Ribeiro era um grande intelectual, um notável escritor, um incansável político-patriota, que lutou por seu ideal de Brasil até o último momento."

Hélio Bicudo, deputado federal (PT-SP) - "Deixou dois legados: como antropólogo, foi fundamental para a história. Como educador e político, deixou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação."

Francisco de Oliveira, cientista político - "Darcy Ribeiro era um homem de coragem. Enfrentou a doença com galhardia, sem o baixo astral daqueles que sabem que vão morrer. Ele foi até o fim."

Mário Covas, governador de São Paulo (PSDB) - "Fui senador ao mesmo tempo que ele e pudemos conviver. Pude assistir com que competência, com que capacidade, com que conhecimento, com que dignidade ele desenvolvia sua tarefa."

José Aníbal, líder do PSDB na Câmara dos Deputados - "Era uma figura luminosa, estimulante. Fez um trabalho fantástico na fundação da Universidade de Brasília. É uma grande perda para o Brasil."

Aloysio Nunes Ferreira, deputado federal (PMDB-SP) - "Era um homem que representava uma geração de inconformismo na política brasileira. Infelizmente, essa geração vai se extinguindo. É uma grande pena."

Maria da Conceição Tavares, deputada federal (PT-RJ): "Ele representou toda a energia do povo brasileiro. Ele tinha uma fé muito grande nesse povo. Devo a ele a minha introdução nos assuntos do país."

Eduardo Suplicy, senador (PT-SP): "O que mais me chamava a atenção era seu senso de indignação e sua capacidade de fazer críticas em tom fraternal, como fazia com FHC. Era uma doçura ouvi-lo, quando ele usava a tribuna."

Almino Affonso, deputado federal (PSDB-SP) - "Um dos meus privilégios no exílio no Uruguai, no Chile e no Peru foi ter conhecido do Darcy e viver com ele muitos anos. Ele tinha uma capacidade de criar impressionante."

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