São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 1997
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'Para mim, os terroristas eram criminosos'

PAULA DIEHL
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM BERLIM

A filha do embaixador americano Charles Elbrick, Valery, falou em entrevista exclusiva à Folha sobre seu pai e os dias do sequestro que inspirou o filme "O que é isso, companheiro?". Leia trechos a seguir.
(PD)
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Folha - Qual foi a sensação de encontrar Fernando Gabeira, um dos membros do grupo que sequestrou seu pai?
Valery Elbrick - Incrível. Quando o meu pai estava sequestrado, eu pensei várias vezes sobre quem eram os terroristas que tinham o meu pai, se iam matá-lo, se iam torturá-lo. Imaginava a cara deles, os tipos. Na época eu não sabia nada da situação do Brasil, para mim os terroristas eram um gênero de criminosos.
Folha - Seu pai chegou a falar sobre Gabeira na sua casa?
Valery - Não em especial. Meu pai leu o livro do Gabeira e marcou nas páginas, "não era assim", ou "era assim" ou "absolutamente não". Ele disse que deu uma gravata de presente para o meu pai quando saiu da casa e não era assim. Todas as fotos do meu pai regressando à embaixada são sem gravata. Mas são coisas pequenas.
Folha - Seu pai chegou a comentar em casa a situação da política brasileira quando era embaixador? A opinião dele sobre a guerra do Vietnã que aparece no livro e no filme chegou a ser comentada?
Valery - Não, ele nunca falava dessas coisas. Não havia como ele se lembrar. Mas também se deve reconhecer que estava com uma pistola na cabeça. Então as coisas que disse... É difícil dizer.
Meu pai era muito conservador. Até o último momento de Nixon, quando ninguém acreditava mais, meu pai falava: "Não, eu acho que ele está falando a verdade" (risos). Então não acho que ele diria que o Vietnã era um erro. Mas não sei.
Folha - O que você achou da imagem de seu pai no filme?
Valery - Foi dado um caráter humanitário a meu pai que me foi surpreendente.

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