São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 1997
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Vice argentino sugere boicote a "Evita"

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

O vice-presidente argentino, Carlos Ruckauf, propôs o boicote da população do país ao filme norte-americano "Evita", que faz sua estréia local na quinta-feira.
Apesar de não ter visto o musical, Ruckauf considerou a produção "lesiva à memória de Eva Perón". O diretor Alan Parker, no país para promover "Evita", respondeu à convocação do boicote.
"É ignorante dizer para o público que não assista ao filme sem tê-lo visto", disse o cineasta inglês.
Segundo Parker, ele recebeu comunicações do presidente do país, Carlos Menem, e do secretário da Presidência, Alberto Kohan, desejando-lhe sorte. "É muito estranho que o vice-presidente tenha uma opinião diferente", afirmou.
"Evita" é a versão para o cinema da ópera-rock que retrata a vida de Maria Eva Duarte de Perón, primeira-dama argentina que se tornou mito ao morrer aos 33 anos depois de liderar a política social do país entre 1946 e 1952.
Parker tentou manter o bom humor ontem durante uma entrevista coletiva para a imprensa argentina, apesar das críticas dirigidas a ele, a Madonna e ao filme.
"Não ter nominações para o Oscar de filme e de atriz foi menos decepcionante que a derrota dos ingleses para a Itália, pelas eliminatórias para a próxima Copa do Mundo", ironizou Parker sobre as más notícias da semana passada.
Perguntado sobre seu próximo filme, respondeu: "Vai ser um filme curto, sem estrelas, sem controvérsia e não será rodado ou ambientado na Argentina".
Parker foi bombardeado com críticas às pequenas infidelidades históricas do filme. "Não fiz um documentário. É uma criação artística. Mas há uma grande precisão histórica", afirmou.
Os críticos argentinos citam, por exemplo, a cena do funeral de Evita, em que o povo aparece de camiseta, sendo que a cerimônia aconteceu em pleno inverno portenho.
"Às vezes, são cometidos erros, mas a cena está muito bem realizada, e isso é o que importa."
Parker disse que o filme polarizou a crítica mundial. "A revista 'Newsweek' falou mal, 'Time' falou bem. Todos os meus filmes são assim. É uma cruz que tenho de carregar na minha carreira."
Ele afirmou que teve dois desafios para fazer o filme: o artístico e o político. "Coincidir música e imagem para contar uma narrativa era uma linguagem que não conhecia. Outro problema era fazer um filme equilibrado, que não glorificasse nem denegrisse Evita."
Para Parker, serão necessários cinco anos para que se possa julgar bem "Evita". "É muito fácil dizer que o filme é uma reunião de videoclipes. Mas não é assim. Ele tem substância e uma história."
Parker teve de repetir várias vezes que leu 29 livros sobre Evita antes de rodar e que o filme é respeitoso com a personagem.
O diretor também teve de sair em defesa do comportamento de Madonna ("Ela se queixa muito, mas é uma boa profissional") e da ausência dela na promoção argentina ("Que eu saiba, não estava programado que viria. Está nos EUA fazendo seu papel de boa mãe").
Os críticos argentinos de cinema apontaram a duração do filme (2h20) e a lentidão de algumas sequências como pontos fracos da superprodução. O jornal "Crônica" classifica o filme de "um tédio" e chama seu diretor de "Parker, o Soberbo".

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