São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Atuação de Smith é tudo

NELSON DE SÁ
DO ENVIADO ESPECIAL

Em "Talking Heads", de Alan Bennett, não tem jeito, o que faz a peça, o que prende a atenção é inteiramente a atuação de Maggie Smith. É a maior atriz inglesa viva, a primeira atriz, ainda que sem o mito de Vanessa Redgrave. (Fiona Shaw fica de fora, não apenas por ser irlandesa, mas por pertencer a uma geração posterior.)
Primeiro a explicação. "Talking Heads" é uma série de seis monólogos escritos por Bennett para a BBC, a rede estatal inglesa, em 87. Ele é conhecido pela peça (e pelo roteiro do filme) "The Madness of George III", com seu texto que junta humor e uma crítica pessimista da sociedade inglesa.
Maggie Smith, em atuação dada como a melhor da temporada pelo crítico do "The Times", carrega na auto-ironia para erguer um mundo separado, em que Susan, o personagem, surge mais enfastiada do que rancorosa.
Está sempre distante, observando do alto como é usada pelo marido, primeiro como santa, depois como uma mulher caída a quem ele deve salvar, na mesquinharia do cotidiano religioso. O tempo todo, enfrenta o ciúme e a competição das beatas, apaixonadas pelo vigário. "Se você pensa que squash é competitivo", diz, "devia tentar arranjo floral".
Para alcançar o humor do personagem, Maggie Smith não teme recorrer à voz mais farsesca, às pausas cômicas, quase deixando o monólogo para entrar inteiramente na comédia "stand-up".
No palco, uma cadeira, uma parede ao fundo, pouco mais. Nada para atrapalhar a atenção no rosto da atriz, no olhar de ironia, na sensualidade, ao falar das tardes com o indiano, a quem nada da hipocrisia anglicana afeta.
(NS)

Texto Anterior: Tchecov volta cômico
Próximo Texto: Donnellan decepciona
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.