São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 1997
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Entidades querem contestar operação

DA REPORTAGEM LOCAL

Os centros de defesa dos direitos das crianças de São Paulo estudam entrar com medidas judiciais contra a Operação Centro.
"Essa operação fere o direito constitucional de ir e vir. Além disso, é uma ação policial fantasiada de ação social, por isso, os centros defesa dos direitos das crianças estão estudando ações contra a operação", disse o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Menor.
"Não somos contra a ação da PM de combate aos pequenos delitos, que tendem a crescer até se transformar em grandes, mas não concordamos com a prisão indiscriminada de moradores de rua. Para tachar uma pessoa de vadiagem é preciso uma investigação cuidadosa, não pode ser um ato arbitrário", disse o presidente da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), Guido Andrade.
Segundo Andrade, "prender o mendigo ou a criança carente é fácil; o difícil é apanhar o grande traficante, o bandido violento".
"Não adianta tirar as crianças da rua. É necessário criar condições para que esses menores consigam se reintegrar à sociedade", afirmou o coordenador da Comissão dos Direitos da Criança da OAB, Carlos Eduardo Di Pietro.
"O Estado tem de zelar pelo bem-estar do menor, mas essa ação tem de ser permanente e não ocasional em uma operação policial", disse o juiz-corregedor da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor), Luiz Fernando Salles Rossi.
Segundo o padre Júlio Lancellotti, a estrutura da Febem e do SOS Criança é insuficiente para abrigar todos os menores recolhidos das ruas. "Para onde essa população de rua vai ser levada? É preciso, antes de planejar uma operação dessa, criar condições para a internação dessas crianças e adolescentes, carentes ou infratores", disse.
"Um plano policial preventivo mais amplo não pode se pautar somente pelos pequenos delitos, mas incluir os locais onde a violência é maior. Não basta criar uma sensação de segurança, conforme um dos lemas da operação, de acordo com a Polícia Militar", disse o ouvidor da polícia de São Paulo, Benedito Domingos Mariano.
O ouvidor disse que não recebeu ontem nenhuma denúncia de violência policial que poderia ter sido cometida durante a operação.

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