São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 1997
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Medida é elogiada pelo mercado financeiro

DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado financeiro recebeu bem a nova banda cambial (faixa permitida de flutuação do dólar), reajustada para R$ 1,05 a R$ 1,14.
O entendimento comum é que a medida mostrou que nada mudou na essência da política cambial. Foi honrada a palavra do presidente Fernando Henrique Cardoso e dos integrantes da equipe econômica, que vinham negando, nos últimos dias, mudanças na política de ajuste do real frente às demais moedas.
Para Pedro Scarpa, gerente de câmbio do BBA Creditanstalt, explica que houve um mero reajuste na flutuação, sem alteração nos mecanismos cambiais nem forte desvalorização do real. A previsão é de que, neste ano, a moeda brasileira será reajustada em torno de 8%. Continua a política de desvalorização mensal entre 0,6% e 0,65%.
"O reajuste da banda cambial foi ajuizado. Se houvesse uma máxi ou mididesvalorização, a perda de credibilidade para o governo seria tanta que anularia o efeito positivo da medida sobre as exportações", avaliou Scarpa.
Cláudio Lélis, vice-presidente do Banco Pontual, afirma que a rapidez com que a nova banda foi definida serviu para "pôr fim às especulações".
"Não mudou nada. Foi o que o BC mostrou ao mercado", disse Lélis.
Atividade
Para o economista-chefe do Lloyds Bank, Odair Abate, o governo mostrou que novos ajustes para diminuir o déficit da balança comercial (exportações menores que as importações) serão feitos de outras formas que não o câmbio.
"Quem for pensar nos rumos da política econômica deve olhar agora para questões como o custo Brasil e o nível de atividade", considera o economista.
Por "custo Brasil", entenda-se ineficiências da economia e de infra-estrutura do país quando se compara as condições oferecidas aos exportadores estrangeiros em seus países de origem.
Esse custo já vem sendo reduzido, como mostrou a desoneração das exportações de produtos agrícolas e semi-elaborados de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), no ano passado.
Scarpa, do BBA, também acha que há espaço para medidas de contenção do consumo para frear as importações, já que a opção de desvalorizar fortemente o câmbio foi descartada -pelo menos, por enquanto.
"Boa parte das importações elevadas é causada pela abundância de crédito de longo prazo, oferecido pelas lojas aos consumidores. Antes de mexer no câmbio, o governo terá essa arma para reduzir o déficit comercial", disse Scarpa.
Para ele, o mercado continuará nervoso enquanto o déficit da balança comercial estiver alto. Nos dois primeiros meses deste ano, a cifra poderá chegar a US$ 2 bilhões, estima o BBA.
Ousadia
Para o economista Edward Amadeo, da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio, a medida é "ousada"-justamente por não mexer no ritmo de desvalorização do real. Isso pode gerar movimentos especulativos, afirmou.
"Essa mudança pode até piorar a situação da nossa balança comercial, pois pode haver uma antecipação das importações e uma postergação das exportações", disse.
Michel Alabi, vice-presidente da Adebim (Associação das Empresas Brasileiras para a Integração no Mercosul), festejou a medida.
"É ótima. Ela demonstra que o câmbio não está engessado e que existe uma preocupação com a balança comercial", afirmou.
Mas o empresário reclamou da posição do Banco Central em controlar o câmbio.

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