São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 1997
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Só resta apelar para os raios certeiros de Zeus

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Mal a bola começou a rolar e já se estabeleceu a zorra de praxe.
No fim-de-semana, o jogo do Corinthians foi antecipado de domingo para sábado, na quinta-feira à tarde, depois de centenas de ingressos já vendidos. Isso porque a própria federação havia enfatizado na sua propaganda do Paulista as vantagens de se comprar entrada antecipadamente. Quem entrou nessa entrou bem.
Agora, é a vez do Santos, que vinha driblando, leve e fagueiro, todos os adversários da temporada, embatucar, novamente, fora do campo: a FPF marcou um jogo para hoje, pelo Paulistão, e a CBF outro para amanhã, pela Copa do Brasil. E mais: a CBF se nega até mesmo a dar um documento liberando o Santos de cumprir a lei das 72 horas. Vire-se, foi a resposta do Coelho de plantão lá na rua da Alfândega.
E Zeus, o que faz lá em cima do Olimpo? Tá dormindo, ou de olho em alguma bela e inocente pastora aqui da terra? Por que não envia um raio na cabeça de cada um desses coveiros do futebol brasileiro?
*
Jogo a toalha, desisto. Ouço no rádio que o Botafogo fez a oferenda dos deuses ao São Paulo: troca Bentinho, pau a pau, por Valdir. Resposta tricolor: não. Motivo: Bentinho, quando esteve no Morumbi, criou alguns problemas.
É verdade. Criou mesmo. Sobretudo, para os adversários, pois, em meia temporada de tricolor, foi o artilheiro do time e do campeonato. Fez gols de cabeça, de pé, de bicicleta, frutos de belas jogadas ou de puro oportunismo. E mais: bate faltas e pênaltis como poucos, o que seria maná para um time cujo único cobrador de infrações é o goleiro.
Além do mais, tanto joga de centroavante quanto de meia-direita, dois vácuos no São Paulo destes dias. Por fim, é mais do que evidente o desgaste entre Valdir e a torcida tricolor. Logo...
Logo, Bentinho criou problemas, dizem os cartolas do Morumbi. Ah, bom, nesse caso fiquemos com Edmundo e Renato (que não vem mais), esses dois monges franciscanos do mundo da bola.
*
Li com prazer redobrado a coluna do Juca Kfouri de domingo: está lá tudo o que pensei e escrevi, nos últimos 25 anos, sobre o anacronismo que representam esses agônicos campeonatos estaduais.
O diabo é que nosso futebol está montado numa estrutura política, quando os novos tempos exigiriam um organograma empresarial. O modelo vigente é, digamos, confederativo. Os clubes elegem os presidentes das federações que, por sua vez, escolhem o presidente da CBF. Esta, porém, não é gestora do futebol como um todo. Apenas se responsabiliza pela organização dos torneios nacionais e pela seleção brasileira, enquanto as federações têm plena autonomia nas suas respectivas áreas.
Assim, sobrepõem-se, sempre, os interesses políticos, nunca os empresariais.
Para a coisa funcionar, a CBF deveria ser a holding e as federações, as superintendências. Por fim, os clubes, como unidades de negócio.
Mas, para tão profunda e substancial mudança, antes teríamos de apelar para Zeus e seus raios certeiros.

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