São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 1997
Próximo Texto | Índice

Juiz de Fora restaura Di, mas faz xixi em Portinari

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O patrimônio histórico e arquitetônico da cidade mineira de Juiz de Fora vive uma situação bizarra, embora promissora. A cidade possui dois importantes murais públicos, um de Emiliano Di Cavalcanti (1887-1976) e outro de Cândido Portinari (1903-1962).
O primeiro mural passa, desde ontem, por um processo de restauração que pretende lhe dar novamente o brilho e a importância artística que o rodeavam em 1950. Já a obra de Portinari ainda funciona como mictório público informal da cidade (leia texto abaixo).
O mural de Di Cavalcanti está localizado na praça da República, em frente a um cemitério, na r. Osório de Almeida, próxima da antiga estrada que ligava Juiz de Fora a Petrópolis ("caminho imperial"), hoje substituída pela BR-040.
O trabalho foi realizado em 1950, como comemoração pelo centenário da cidade (31 de maio). É o segundo de Di em pastilhas vítricas. O primeiro é o mural "Alegoria às Artes", de 1949, no teatro de Cultura Artística, em São Paulo, um projeto do arquiteto Rino Levi.
"O arquiteto Arthur Arcuri, um dos primeiros arquitetos modernistas de Minas Gerais, havia entrado em contato com Niemeyer para que ele intermediasse o pedido de um mosaico ao muralista Paulo Werneck. Quando chegou ao Rio, encontrou Di Cavalcanti no escritório de Niemeyer, que não estava lá. Chegou mais tarde e disse que seria Di a realizar o mosaico, pois ele estava precisando de dinheiro", disse Jorge Sanglard, assessor de relações públicas da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lajes, a Secretaria da Cultura de Juiz de Fora.
Segundo Sanglard, o monumento se encontra bastante avariado. Abandonado há cerca de dez anos, perdeu muitas de suas pastilhas e não ostenta mais a lâmina d'água de sua concepção original.
A história começou a se inverter em 23 de dezembro do ano passado, quando o monumento foi declarado patrimônio histórico da cidade. No mesmo período, foram localizados, junto com documentos do arquiteto, o desenho original e uma carta de Di com detalhes sobre o projeto.
A restauração, a cargo do arquiteto Massimiliano Fontana, foi iniciada nesta semana. Deverá consolidar a estrutura do monumento, remover intervenções anteriores (remendos realizados com cimento), retirar manchas e microorganismos, consolidar os revestimentos e por fim recolocar as pastilhas faltantes.
"Algumas pastilhas serão retiradas e enviadas a São Paulo, para verificarmos se elas ainda existem no mercado. Se não, terão que ser produzidas para o trabalho", disse Sanglard.
A praça da República, que também entra no projeto de restauração, ganhou ainda mais importância histórica e artística ao receber sugestões dos principais arquitetos modernistas da época. Arthur Arcuri ouviu as idéias de Burle Marx para os jardins e de Lúcio Costa para o monumento.

Próximo Texto: Obras na Dutra preocupam
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.