São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 1997
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Engraçada, mas violenta, Niki chega a SP

CASSIANO ELEK MACHADO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Niki de Saint Phalle nasceu em 1930 com o cordão umbilical dando duas voltas em seu pescoço.
Não conseguiu chorar logo que nasceu, mas o grito de suas obras rodou o mundo com estardalhaço e chega agora a São Paulo.
A partir de hoje, 87 esculturas, serigrafias, litografias e fotos dos monumentos públicos criados pela artista preenchem a Pinacoteca do Estado com humor, sátira e violência.
As três palavras são de Jean-Gabriel Mitterrand, curador da exposição e dono da galeria de esculturas JGM, que representa a artista.
Para o sobrinho do ex-presidente francês François Mitterrand, a obra de Niki é "muito engraçada, lúdica, mas muito séria".
Com forte ímpeto destrutivo, Niki ganhou os primeiros centímetros na história da arte quando transformou a arte de atirar em artes plásticas.
Sua primeira exposição individual, em 1961, consistiu de uma sessão de tiros na galeria J.
Como não se expõem tiros, a mostra da Pinacoteca, que traça todo o percurso da artista, começa com uma escultura prateada de 1964 em que estão sobrepostos objetos como pequenas esculturas de insetos e pistolas de plástico.
Mas não foram essas "assemblages" neo-realistas que projetaram o nome de Niki para o mundo.
A artista conquistou seu público-alvo, as crianças e os "populares", quando canalizou todas as suas revoltas em portentosas e coloridas esculturas de mulheres. Um exemplo é "Dolores", negra, volumosa, de cabelos loiros e vestido psicodélico.
A peça de 1965 foi uma das mais elogiadas pelo público do Rio de Janeiro, onde a exposição foi apresentada e reuniu 10 mil pessoas apenas na primeira semana.
"Dolores" é uma espécie ampliada do maior ícone da carreira de Niki de Saint Phalle.
As "Nanás" -nome que designa moças em francês- estão espalhadas ao longo da Pinacoteca.
Essas estatuetas de mulheres desproporcionalmente gordas, fora das padronagens convencionais e cobertas de cores berrantes são, segundo Jean-Gabriel Mitterrand, o retrato que Niki criou da mulher livre.
Foi com essas peças que ela soltou as poderosas cores que lhe acompanharam -e acompanham, pois Niki tem 63 anos e continua produzindo- ao longo da carreira.
Mitterrand conta que as tonalidades fortes representam "a luta pela liberdade, o exorcismo dos pesadelos da artista".
Além das "Nanás", outra das marcas registradas da artista, os "Skinnies", também estão em São Paulo.
As peças delgadas em volume, criadas em poliéster e lâmpadas, são exemplificadas por peças como "O Louco" e "O Enforcado", criadas a partir de cartas de tarô.
Com personagens como esses, Niki construiu sua instalação mais mirabolante. Inspirada pelo arquiteto espanhol Gaudí, de quem era grande admiradora, ela construiu ao longo de 15 anos o "Jardim do Tarô", espaço que reúne 22 esculturas grandiosas em Garavicchio, na Itália. Maquetes dessas peças podem ser vistas na Pinacoteca.
Outro atrativo da exposição está em fotos de Niki que Carlos Freire, brasileiro radicado em Paris, realizou. Com traços de estátua grega, Niki chegou a posar para espaços como a capa da revista "Life" antes de se consagrar como artista.

Exposição: Niki de Saint Phalle
Quando: terça a domingo, das 10h às 18h
Onde: Pinacoteca do Estado (av. Tiradentes, 141, tel. 011/227-6329)
Quanto: R$ 4 e R$ 2 (estudantes)

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