São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 1997
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Padre acusa grupo de desrespeito a Jesus

DANIELA ROCHA
DA ENVIADA ESPECIAL A ARARAQUARA

O padre Oswaldo Baldan, 64 anos, 40 de sacerdócio, que solicitou o enquadramento do diretor Zé Celso e do grupo Uzyna Uzona no artigo 208 do Código Penal, afirma que seu objetivo era alertar a comunidade cristã de Araraquara sobre a "pornografia" que foi mostrada pelo diretor Zé Celso Martinez Corrêa na montagem de "Mistérios Gozosos".
O artigo 208 do Código Penal protege imagens e ritos religiosos, e Zé Celso foi acusado de vilipendiar (ofender) a eucaristia.
Uma nova audiência aconteceria ontem, no Fórum da cidade, com participação do diretor teatral, de seis atores da companhia, do padre e dos acusantes Inês Destro e Hormindo Borin e de Carmem Maria Madalena e Luiz Fabiano Corrêa.
A peça foi apresentada duas vezes na cidade de Araraquara (285 km de São Paulo), em junho de 1995, durante uma semana de homenagens a Luiz Antonio Martinez Corrêa, irmão do diretor Zé Celso.
O padre não viu o espetáculo, mas recebeu relatos de fiéis sobre o conteúdo da peça.
Providências
"Fizemos uma reunião para saber que providências deveríamos tomar. Eles me relataram que existia uma série de injúrias em relação a Cristo. Aquilo não poderia passar em branco. Precisávamos tomar uma atitude para não ficar de babaca e para dizer que não aprovávamos o que havia sido mostrado", disse.
Segundo o padre, os fiéis foram ao teatro achando que veriam uma peça religiosa. "O título é enganoso", afirmou.
O padre tem como provas do vilipêndio fotografias do espetáculo com cenas consideradas por ele de conteúdo obsceno. Cópias das fotos ficaram no fórum para serem anexadas ao processo.
As imagens mostram cenas com atores seminus, mas o que mais chamou a atenção do padre foi uma foto de um objeto usado em cena que permanecia coberto por um pano durante o espetáculo todo e que aparentava ser a imagem de Jesus Cristo.
Ao final, os atores tiraram o pano e o público viu um objeto em forma de pênis que tinha quase dois metros de altura. "É um desrespeito a Cristo e à eucaristia o que eles fizeram", disse o padre Baldan.
Apesar de achar toda a situação desgastante, ele diz que sua ação era necessária.
"Na ocasião teve muita repercussão e, agora, a comunidade conhece o conteúdo dos espetáculos do Zé Celso."
Liberdade de expressão
Para o padre, neste momento não importa se o diretor e os atores serão ou não condenados. "Não é a pena o que interessa. Nossa atitude foi recorrer ao Código Penal por causa da ofensa moral causada", afirma.
Na opinião do padre, ao solicitar o enquadramento do grupo no artigo 208 do Código Penal, ele não estaria ferindo a liberdade de expressão assegurada pela Constituição.
"A liberdade de expressão supõe respeito à pessoa humana. A apresentação de Zé Celso não levou isso em consideração."
O padre argumenta que pessoas que ameaçavam sair do espetáculo por não concordar com o que viam eram impedidas pelo grupo de atores.
"Eles faziam cerco e davam vaias para quem ameaçasse sair", afirmou.
O padre diz que respeita a liberdade de Zé Celso e não acha que o diretor deve ser proibido de mostrar seus espetáculos. "Cada um tem seu critério para saber se deve ou não ver as peças de Zé Celso", disse.
O padre se sentiu ofendido com a coluna assinada pelo diretor de redação da Folha, Otavio Frias Filho, no dia 28 de novembro de 1996, que defendia o diretor Zé Celso.
"Aquela coluna foi ofensiva contra mim", disse o padre, "mas o meu objetivo é atingir apenas a comunidade cristã de Araraquara; os outros não são responsabilidade minha."

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