São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 1997
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CRESCER, SÓ COM POUPANÇA

A expansão da economia ocorrida logo depois do Plano Real foi um "surto". Ou seja, entre esse tipo de aquecimento do consumo e uma trajetória de crescimento sustentável, há uma longa distância que mal começou a ser percorrida.
Para alguns economistas, como o ex-presidente do BNDES Antônio Barros de Castro, em artigo que a Folha publica hoje, é preciso optar entre várias "rotas" possíveis. Infelizmente, o debate sobre o tema tem girado principalmente em torno da questão cambial. Para os céticos e os críticos, crescer "demais" leva irreversivelmente a desequilíbrios intoleráveis nas contas externas.
Na prática, embora os economistas brasileiros durante anos denunciassem a impossibilidade de pensar o longo prazo por conta da superinflação, por enquanto a inflação é bastante baixa, mas pouco ou nada se discute com relação ao longo prazo. Ora, como alerta o professor Castro, a essência do desenvolvimento é a formação de poupança. Aliás, é por essa razão que não se pode ver num surto consumista o ponto de partida para um novo desenvolvimento.
Três fatores afetam tanto a formação como a distribuição da poupança. Em primeiro lugar, está a necessidade de ajustar as contas públicas, pois o governo é um "despoupador" inclemente. A arrecadação nos últimos anos cresceu bastante, mas o governo, infelizmente, não cortou gastos na mesma medida.
Em segundo lugar, são necessárias reformas financeiras no sentido amplo, não apenas das combalidas instituições públicas, mas também do sistema bancário privado, ainda distante do longo prazo, atento hoje sobretudo ao crédito ao consumo.
Finalmente, está a restrição externa. Não o déficit comercial ou o câmbio em si mesmos, mas o endividamento externo. Já se viu no passado que recorrer à "poupança externa" é um artifício limitado e instável.
Há mesmo quem afirme que se trata de uma fonte insuficiente para alavancar o processo de desenvolvimento numa economia de dimensões continentais como a brasileira.
"Poupança" é um termo polêmico entre os economistas. Sob esse rótulo, escondem-se questões relativas ao financiamento na economia. Mas, enquanto não se conseguir superar os obstáculos à formação e ao uso eficiente da poupança, a promessa de desenvolvimento será só retórica.

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