São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 1997
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BC faz devassa em quatro corretoras de SP

DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central apreendeu ontem em São Paulo todos os registros de transações com títulos públicos emitidos para o pagamento de dívidas judiciais (precatórios) de quatro distribuidoras: Split, Negocial, Ativação e Olímpia.
Os senadores da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga irregularidades na emissão e negociação desses títulos determinaram a apreensão dos documentos anteontem, depois do depoimento do dono da IBF Factoring, Ibrahim Borges Filho.
Borges Filho, que lucrou US$ 100 milhões no ano passado com títulos públicos, afirmou que essas empresas participavam de um esquema para obtenção de lucros desproporcionais com a negociação dos papéis.
A regional do BC recebeu ontem um ofício determinando a apreensão dos documentos das empresas. Quatro equipes com dois inspetores cada foram despachadas para cada uma das distribuidoras.
José Roberto Alves, coordenador de fiscalização do BC em São Paulo, que esteve no escritório da Olímpia, disse que os inspetores se "limitaram" a arrecadar documentos contábeis, fiscais, extratos bancários e livros de contabilidade para o encaminhamento à CPI.
Os documentos são demonstrativos, por exemplo, de operações em Bolsa de compra e venda de títulos públicos e privados. Mesmo com a documentação apreendida, as empresas continuam autorizadas pelo BC a operar no mercado.
"Não averiguamos nada. A análise (dos documentos) não nos foi pedida, só arrecadamos os papéis até 1997", afirmou Alves.
O trabalho começou por volta das 11h30, com a chegada do dono da empresa, Luiz Antônio Salles, e terminou às 18h.
Pelo menos três pilhas de documentos foram transportadas para o BC em uma Kombi branca.
Salles disse à Folha que estava tranquilo, mesmo tendo os inspetores em seu escritório por quase todo o dia de ontem.
"Só posso aguardar. Nossa participação no esquema foi muito pequena. Nosso negócio é comprar e vender títulos, e temos autorização para fazer isso", afirmou.
O mesmo processo, segundo a Folha apurou, foi repetido nas outras três empresas. Do ponto de vista do BC, a operação é inédita. Técnicos do banco dizem que o procedimento normal é analisar a documentação no local e tirar fotocópia daquilo que for relevante.
Nenhum dos dois quis se identificar. Eles tentaram despistar afirmando que se tratava de operação de rotina. Informaram, apenas, que se reuniram com Enrico Picciotto, um dos donos da Split.
Quebrando a rotina, as portas do prédio foram fechadas às 15h20, quando normalmente isso só acontece por volta das 18h, segundo um dos profissionais que trabalham no prédio. Nenhum dos diretores da empresa quis falar.
O assessor de imprensa da Negocial, Fernando Rocha, informou que a empresa não iria se manifestar. Fábio Pazzanese, dono da empresa, foi proibido pelo BC de operar no mercado depois de um processo administrativo.
O proprietário da Ativação, José Cássio Bariani, não quis falar à imprensa, mas divulgou nota afirmando que Borges Filho agiu de "má-fé". A nota diz ainda que o dono da IBF pretende "desviar a atenção e proteger os que realmente se escondem por trás do seu nome e de sua empresa (IBF)".
Polícia Federal
A Polícia Federal destacou duas equipes para investigar as empresas. Uma equipe, liderada pelo coordenador regional do Distrito Federal, Mário Nakasa, foi ontem a três locais acompanhada de Ibrahim Borges Filho, da IBF.
Outra equipe, segundo a PF, está acompanhando funcionários do BC. Nakasa não revelou em que empresas sua equipe esteve. Disse apenas que foram apreendidos documentos. Ibrahim, conforme o delegado, estaria "facilitando o acesso aos locais". Nakasa disse que será aberto inquérito policial só "se a CPI requisitar".

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