São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 1997
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Tolerância zero em tudo

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Nada contra a operação "Tolerância Zero", o programa de policiamento que cuida de prevenir pequenos crimes, no pressuposto de que são apenas a ante-sala dos grandes.
Foi esse um dos caminhos utilizados em Nova York para fazer despencar a criminalidade. A lógica é impecável, conforme a descreveu William Bratton, ex-chefe de polícia de Nova York, em reunião na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Lá, a lógica funcionou assim: tolerava-se o fato de que 200 mil das 5 milhões de pessoas que usavam diariamente o metrô não pagassem o bilhete. Quando Bratton assumiu, relata a "Revista da Indústria", descobriu que 1 de cada 21 desses infratores portava arma ilegalmente. "Eram pessoas que entravam no sistema de transporte para cometer crimes violentos", relatou o policial.
Coibir a infração leve (não pagar o bilhete) teve como efeito uma redução de 80% não apenas nas transgressões aparentemente inocentes como nos crimes graves no metrô.
Até aí, tudo muito bem. O problema é imaginar-se que basta "tolerância zero" para se obter sucesso idêntico.
Nova York, com menos habitantes do que São Paulo (8 milhões, contra 10 milhões), tem mais policiais, mais viaturas, mais equipamento de radiocomunicação, e sua polícia, um orçamento estupidamente maior do que o da polícia paulista (US$ 2,6 bilhões contra apenas R$ 54 milhões).
O policial de Nova York ganha quase quatro vezes mais do que o seu colega paulista. E Bratton fez questão de ressaltar o óbvio: polícia bem paga é garantia de melhores serviços e menos corrupção.
Claro que abismos orçamentários não devem ser motivo para que se deixe de fazer o exequível, como a "tolerância zero". Mas resultados reais dependem de uma decisão política de âmbito nacional, que, de resto, seria coerente com uma das cinco prioridades contidas na mão espalmada que FHC usou na campanha.

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