São Paulo, sábado, 22 de fevereiro de 1997
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O Real para japonês tem dois pecados

MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

Você leria um livro sobre o Plano Real escrito em 1994 e dirigido a investidores japoneses?
Takanori Suzuki, ex-presidente e chairman do Banco de Tokyo, acha que você leria.
Suzuki trabalha hoje no Brasil como consultor sênior da área japonesa da empresa de consultoria Deloitte Touche Tohmatsu.
Há dois anos, teve a idéia de publicar no Japão um livro dirigido aos homens de negócios daquele país.
Suzuki diz que foi motivado pela falta de informações, no Japão, sobre a situação atualizada do Brasil. E, é claro, pelo aparecimento do Plano Real.
O livro -"Brasil - O Despertar de Uma Grande Nação"- foi lançado no Japão em fevereiro de 1995 e publicado pela Nihon Keizai Shimbum, a maior empresa jornalística especializada em economia do Japão.
Agora, "incentivado pelos comentários dos leitores japoneses de que se deveria dar uma oportunidade aos brasileiros para lê-lo", o autor concordou em publicar sua versão em português, para ser vendida no Brasil.
Não se sabe se, por gentileza ou por desacreditar em seu potencial editorial, Suzuki decidiu distribuí-lo gratuitamente, fato que poderia ajudar o leitor a responder positivamente à pergunta do início desta resenha.
O livro tem 238 páginas, distribuídas em capítulos com conteúdo econômico e pequenas notas sobre assuntos dos mais diversos, como o Maracanã e Ayrton Senna.
Com relação ao Plano Real, Suzuki é ao mesmo tempo exageradamente otimista e defasado.
Visão defasada
É otimista ao apostar que o Plano Real vai melhorar, a médio prazo, a situação da balança comercial brasileira. "A conclusão a que se chega é que é a de que o Brasil tem possibilidade de aumentar ainda mais o volume de suas exportações", diz o autor na página 28. É verdade que Suzuki, 185 páginas adiante, reconhece uma certa sobrevalorização do câmbio. Mas ele diz que esse problema poderia ser facilmente resolvido com "a hábil utilização do mecanismo de banda".
O livro é defasado porque foi escrito há mais de dois anos, antes que a balança comercial começasse a pender realmente para o outro lado, e ficasse claro que o problema do câmbio é uma das principais forças e ao mesmo tempo fragilidades do plano.
Suzuki parece também que estava influenciado pelo espírito da campanha presidencial que elegeu o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Ele repete com quase as mesmas palavras do então candidato a importância das reformas constitucionais para o sucesso do Real. O autor deve ter ficado surpreso ao ver os esforços do governo no sentido de aprovar a reeleição.

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