São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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"DOs e DON'Ts"

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE DOMINGO

É sempre útil, em visitas a povos exóticos, levar na bagagem um pequeno manual de "DOs e DON'Ts" (faça, não faça). Ele nos alerta sobre os hábitos locais e evita gafes e mal-entendidos.
O pequeno guia a seguir visa auxiliar estrangeiros recém-chegados à Tucanolândia, esse país emergente, que muda vertiginosamente seus hábitos.
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DON'T - NÃO TROQUE os Fernandos. A pior das gafes que se pode cometer na Tucanolândia é confundir Fernando Collor de Mello com Fernando Henrique Cardoso. Um não tem nada a ver com o outro. Mesmo que você possa vir a detectar semelhanças entre a agenda política do primeiro e a do segundo, você está errado. Elas não existem.
Se for muito difícil, frases do tipo "ele anteviu as modificações que vieram a ocorrer nas relações entre o centro e a periferia" podem causar grande admiração.
DON'T - NÃO USE o termo "direita" para qualificar ideologicamente o aliado PFL. Mesmo que seus líderes tenham sido esteios do regime militar, no sistema de crenças do povo tucano direita e esquerda não apenas perderam seus antigos conteúdos como não adquiriram novos. Se quiser fazer algum comentário ligeiro, diga: "O PFL está supreendendo".
Para entender: à semelhança de outros entusiastas do regime militar, como Paulo Maluf, Antonio Carlos está mudando sua imagem. Deve ser elogiado como defensor da Bahia e considerado um "oligarca, no bom sentido", com raízes na cultura brasileira e interessado na modernização.
DON'T - NÃO UTILIZE a expressão "fisiologia" ao referir-se às ações dos tucanos e seus aliados na conquista de votos no Congresso. Na Tucanolândia, a fisiologia foi trocada pela "negociação política". Assim como a inflação, a distribuição de cargos e a compra de votos foram abolidas.
DON'T - EVITE DIZER que a moeda está valorizada, ainda que você possa constatar isso em viagens a Londres, Paris ou Nova York -ou simplesmente consultando os números da balança comercial. A cotação do real em relação ao dólar está correta.
Para entender: quando há muita banana, o preço da banana cai; como há muito dólar, o preço do dólar cai.
DON'T - NÃO CRITIQUE os juros altos. Ou melhor, concorde que são "elevados", mas frise que ainda são necessários.
Para entender: é muito difícil. Diga, de qualquer forma, que é importante para conter a inflação e atrair capitais.

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