São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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Modelo falido ameaça levar esporte à ruína

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

O futebol brasileiro vive um momento decisivo. Como existem dois Brasis, o pobre e o rico, também temos dois países do futebol.
Um círculo de elite de jogadores que ganham salários milionários e a chegada, para poucos times, de patrocínios de grandes empresas fornecem a ilusão de que o futebol profissional, no único país que conquistou quatro Copas do Mundo, vive uma fase pujante.
Por outro lado, a grande maioria dos times, dos campeonatos e dos jogadores vive noutro país do futebol: o dos balanços deficitários, dos jogos e torneios que dão prejuízos, dos baixos salários, do desemprego e da evasão profissional.
Pior ainda, o fosso entre o país do futebol rico e o país do futebol pobre vem aumentando.
Como mostra reportagem deste caderno especial, entre 1993 e 1995 quase triplicou o número de registro de jogadores que ganham um salário mínimo (R$ 112,00).
Por outro lado, a faixa de jogadores que ganham acima de dez mínimos dobrou em 1993.
O futebol rico sabe que, sem mudanças estruturais, ele não poderá sobreviver a longo prazo. É cada vez menor o elenco de times que participam do seu banquete.
O futebol pobre, como se verá nos depoimentos colhidos pela reportagem da Folha, não tem como ficar mais pobre.
Enquanto o futebol cresce em todo o mundo, inclusive em locais sem tradição alguma no esporte, enquanto países europeus descobrem novas maneiras de obter faturamento explorando esse espetáculo, a modalidade perde, no Brasil, cada vez mais o seu principal cliente: o torcedor.
O modelo do futebol brasileiro está exaurido. Com este caderno especial, e com a série de reportagens que serão publicadas ao longo da semana, a Folha, ao fazer um diagnóstico inédito desse setor, passa a incluir o tema da modernização do futebol brasileiro no rol das suas prioridades editoriais.

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